Descrição
O presente trabalho propõe uma análise discursiva do episódio em que o ex-presidente Jair Bolsonaro, durante seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) acerca dos eventos de 8 de janeiro de 2023 — quando manifestantes bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes —, dirige-se ao Ministro Alexandre de Moraes com um convite, que se constituiu nesse contrato comunicativo como uma espécie de brincadeira, para que este fosse seu candidato à vice-presidência de 2026. À luz da Teoria Semiolinguística da Análise do Discurso, de Patrick Charaudeau, interpreta-se essa enunciação como um ato ambíguo, em que o humor emerge em meio a um contexto de tensão institucional e responsabilização judicial, no qual Bolsonaro figura como depoente investigado por possível participação indireta nos ataques à democracia. Tal uso do humor rompe com o contrato de comunicação jurídico e desafia as expectativas de formalidade e seriedade que regem à referida enunciação. Inserida no panorama político brasileiro de 2016 a 2022 — marcado pela polarização ideológica —, a investigação busca compreender de que modo o discurso jocoso pode funcionar, simultaneamente, como estratégia de adesão e como forma de resistência discursiva. A análise fundamenta-se na concepção charaudeauana de discurso como prática social regulada por papéis comunicacionais e orientada por um contrato de comunicação que organiza a produção e a interpretação de sentidos. Metodologicamente, o estudo segue uma abordagem qualitativa e interpretativa, centrada na observação das condições de produção do discurso. Argumenta-se que o humor, quando mobilizado em um cenário judicial, atravessado pelo político, não atua apenas como atenuante de tensões, mas como instrumento de reposicionamento simbólico, capaz de deslocar a responsabilidade enunciativa e reconstruir a imagem do sujeito comunicante diante do público. Nessa perspectiva, o convite proferido por Bolsonaro adquire valor estratégico: simula cordialidade, introduz ambiguidade e relativiza a gravidade do contexto, permitindo ao enunciador redefinir as fronteiras do aceitável no discurso político. O diálogo entre a teoria semiolinguística e o campo da comunicação política demonstra que a comicidade, ao ser deslocada para a esfera institucional, deixa de representar mera espontaneidade para tornar-se um dispositivo discursivo de poder. Conclui-se que, no episódio analisado, o humor funciona como um mecanismo de enfrentamento e de controle simbólico, revelando o modo como o discurso político contemporâneo se vale da ironia para reconfigurar papéis comunicacionais e tensionar os limites entre o sério e o risível na cena pública.
| Selecione a modalidade do seu trabalho | Resumo Simples |
|---|