10 – 14 de nov. de 2025
UFLA
Fuso horário America/Sao_Paulo

A CIÊNCIA E A ARTE NOS TRÓPICOS DA VIRTUDE: ROUSSEAU E A CORRUPÇÃO DOS TRAJES

12 de nov. de 2025 16:00
1h 30m
Centro de Eventos (UFLA)

Centro de Eventos

UFLA

Avenida Norte - Lavrinhas, Lavras - MG, 37200-900
Resumo Simples Filosofia 3º Dia

Descrição

O presente artigo propõe uma reflexão crítica sobre a denúncia formulada por Jean-Jacques Rousseau quanto ao caráter corrompido do progresso das ciências e das artes e suas consequências morais, conforme desenvolvida no Discurso sobre as ciências e as artes (1750). Longe de aderir ao otimismo iluminista que via no avanço do conhecimento a via de emancipação humana, Rousseau inverte a lógica dominante ao afirmar que o desenvolvimento intelectual e artístico não conduz à virtude, mas à degeneração dos costumes e à escravidão disfarçada sob a aparência da civilização. A célebre máxima segundo a qual “nossas almas se corromperam à medida que nossas ciências e nossas artes se aperfeiçoaram” expressa a crítica rousseauniana à hipocrisia social e ao culto das aparências, denunciando o saber como um instrumento de dominação e distinção.
Tal perspectiva não representa apenas uma censura moral, mas um questionamento radical da própria ideia de progresso. Rousseau compreende que o homem moderno, ao buscar o reconhecimento público e o refinamento cultural, converte a razão em mecanismo de autodecepção: quanto mais conhece, mais se distancia de si mesmo. As ciências e as artes, que deveriam ilustrar o espírito, tornam-se dispositivos de alienação e desigualdade, pois reforçam a dependência do olhar alheio e o predomínio da vaidade sobre a autenticidade.
A metáfora dos “trajes” ilustra o mascaramento da verdade pela forma, o predomínio da aparência sobre a substância moral. Nela, Rousseau identifica o processo pelo qual o verniz da cultura recobre a corrupção interior, instaurando uma sociabilidade fundada na dissimulação e na conveniência. O traje civilizado é, portanto, o emblema da decadência moral, uma segunda pele que sufoca a transparência da alma natural.
Neste horizonte interpretativo, sustenta-se que Rousseau não recusa o saber em si, mas a subordinação do conhecimento a fins de prestígio e poder. Sua crítica antecipa uma genealogia da razão instrumental: ao diagnosticar que o progresso técnico não garante progresso moral. Conclui-se que a “corrupção dos trajes” simboliza a perda da autenticidade e da liberdade interior diante de um mundo que confunde civilização com virtude. Assim, a atualidade de Rousseau reside em seu alerta contra o fascínio pela aparência e pela técnica, cuja promessa de aprimoramento humano encobre, em verdade, a persistência da desigualdade e da alienação.

Selecione a modalidade do seu trabalho Resumo Simples

Autor

Alanys Valença Martins Orozimbo (UFLA)

Materiais de apresentação

Ainda não há materiais