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A Transformação da Sensibilidade e Tecnicalidade na Macrotendência Crítica da Educação Ambiental

11 de nov. de 2025 13:30
1h 30m
Centro de Eventos (UFLA)

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Avenida Norte - Lavrinhas, Lavras - MG, 37200-900
Resumo Expandido Educação Científica e Ambiental 2º Dia

Descrição

Abstract This paper discusses the macro-trends of Environmental Education (EE) in Brazil: Conservationist, Pragmatic, and Critical. It analyzes two educational practices—a visit to an ecological park and another to a sewage treatment plant—to critically evaluate their pedagogical potentials and limits. The text argues that the Conservationist and Pragmatic approaches are insufficient to trace the structural roots of the socio-environmental crisis. It concludes by advocating for the Critical perspective as a potent political-pedagogical approach, capable of integrating technical knowledge, affective connection, and socio-political analysis into an emancipatory project for socio-environmental justice.
Keywords: Environmental Education, Critical Macrotrend, Socio-environmental Justice.
Resumo Este artigo discute as macrotendências da Educação Ambiental (EA) no Brasil: Conservacionista, Pragmática e Crítica. Analisa duas práticas educativas - uma visita a um parque ecológico e outra a uma estação de tratamento de esgoto - para avaliar criticamente seus potenciais e limites pedagógicos. O texto argumenta que as abordagens Conservacionista e Pragmática são insuficientes para rastrear as raízes estruturais da crise socioambiental. Conclui-se defendendo a perspectiva Crítica como uma abordagem político-pedagógica potente, capaz de integrar conhecimento técnico, conexão afetiva e análise sociopolítica em um projeto emancipador em busca da justiça socioambiental.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Macrotendência Crítica, Justiça Socioambiental.

Introdução
A Educação Ambiental (EA) contemporânea não se constitui como uma área de saber e prática monolítica. Longe disso, ela se evidencia como um "Campo Social" de disputa por hegemonia simbólica e material, no qual agentes defendem concepções distintas sobre a natureza da crise ambiental e, consequentemente, acerca dos propósitos e métodos da intervenção educativa. Diante disso, a questão fundamental que emerge é de natureza política e epistemológica: que tipo de Educação Ambiental praticamos e a serviço de qual idealização de sociedade?
No Brasil, o debate sobre as correntes da Educação Ambiental (EA) é múltiplo. Autores como Tozoni-Reis (2004), Sauvé (2005) e Sorrentino (1999) têm se dedicado a compreender e sistematizar essa diversidade de abordagens. Para este artigo, adotamos como referencial principal o trabalho de Layrargues e Lima, que estrutura a EA em três macrotendências político-pedagógicas, são elas:
1. Conservacionista: representa a vertente histórica e fundacional da EA, cujo foco pedagógico está na sensibilização e construção de um vínculo afetivo com o mundo natural (lógica do "conhecer para amar, amar para preservar"). Sua principal limitação reside no seu caráter apolítico que, ao focar no indivíduo abstrato, desconsidera as estruturas sociais, políticas e econômicas que determinam a degradação ambiental;
2. Pragmática: simboliza uma derivação e modernização da corrente anterior à lógica neoliberal e de mercado. Centra-se na "pauta marrom" (caráter urbano industrial) e no "ecocapitalismo", propondo soluções tecnológicas que almejam corrigir as "imperfeições" do sistema produtivo, mas sem questionar seus fundamentos; e
3. Crítica: é uma resposta direta às limitações das duas teorias anteriores, referenciada teoricamente nos pensamentos de Paulo Freire e Marx. Seu diferencial baseia-se na introdução explícita dos conceitos de conflito e justiça socioambiental, reconhecendo que a problemática ambiental não pode ser dissociada da crise social, ou seja, o abuso da natureza está intrinsecamente ligado à exploração dos seres humanos por eles próprios.
Nessa perspectiva, Tozoni-Reis sistematiza os indivíduos que cada macrotendência forma, são eles:
1. sujeito natural (Conservacionista), centrado em valores universais e no desenvolvimento afetivo ;
2. sujeito cognoscente (Pragmática), com ênfase na aquisição de conhecimentos técnico-científicos ; e
3. sujeito sócio-histórico (Crítica), que compreende o indivíduo como produto e fabricante da história, capaz de atuar coletivamente para transformá-la.
Com base neste referencial, o objetivo deste trabalho é analisar duas práticas educativas bastante comuns no campo da Educação Ambiental: a visita ao Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito e à Estação de Tratamento de Esgoto da UFLA. A análise busca compreender a aproximação de cada experiência com as diferentes macrotendências, identificando seus elementos potentes à formação humana, bem como suas possíveis limitações. Com isso, pretendemos anunciar, num processo de superação por incorporação, as questões essenciais para a construção de uma prática de Educação Ambiental de fato alicerçada na macrotendência Crítica.
As Macrotendências na Prática: Análise de Duas Experiências Educativas
Uma vez apresentados os referenciais teóricos, este trabalho se aprofunda na análise de duas práticas educativas. Foram tomadas como objeto de estudo uma visita a um parque ecológico (Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito) e a uma estação de tratamento de esgoto (ETE - UFLA), buscando compreender como as diferentes concepções de Educação Ambiental se materializam nesses contextos e qual o potencial transformador de cada abordagem.
A visita ao Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito foi estruturada a partir de dinâmicas de imersão profunda na natureza, exemplificando a abordagem da macrotendência Conservacionista. A principal atividade consistiu em uma caminhada com privação de sentidos, que intencionava romper com a primazia da visão e aguçar os demais. Esta prática demonstrou um enorme potencial pedagógico, identificado pelo grupo como uma robusta ampliação da sensibilidade e da percepção. Ao focar nos sons, texturas e cheiros, os participantes relataram uma reconexão mais íntima com o ambiente e uma identificação mais aguda da biodiversidade local — desde a observação de fungos bioindicadores de ar puro até a percepção do ritmo temporal da natureza, em contraponto à aceleração cotidiana.
A grande questão, no entanto, é como avançar a partir dessa sensibilização. A abordagem Conservacionista, em si, cumpre um papel fundamental de criar afeto e valor. Contudo, a potência de uma Educação Ambiental transformadora reside na capacidade de usar essa experiência como um trampolim. Isso foi o que ocorreu quando o grupo, a partir do valor recém-afirmado daquele espaço, passou a tematizar as barreiras sociais que o cercam. Nesse sentido, a constatação de que parte da população local não acessa o parque por defasagem no transporte público deslocou o debate do plano individual ("minha relação com a natureza") para o coletivo e político ("o direito coletivo de acesso à natureza"). Assim, demonstrou-se como é possível, a partir de uma prática supostamente acrítica, avançar para uma reflexão profunda ao se problematizar as estruturas sociais que mediam a relação sociedade-ambiente.
Já a visita à Estação de Tratamento de Esgoto da Universidade Federal de Lavras configurou-se como uma práxis pedagógica complexa que articulou, de forma intencional, as três macrotendências. Essa atividade não começou na própria estação, mas em suas margens, com uma discussão sobre o Ribeirão Vermelho, o corpo d'água local. Nesse momento, a leitura de um poema Efrain Maier (ONG de Carnópolis de Minas) sobre a degradação de um rio (elemento conservacionista) criou uma conexão afetiva e simbólica com o problema, ancorando a discussão técnica que viria a seguir em uma base de sensibilidade.
Em seguida, a visita mergulhou no elemento pragmático, com uma detalhada explicação técnica sobre o funcionamento da ETE. À vista disso, foram apresentadas as soluções de engenharia, como os tanques compactos, os jardins filtrantes e dados científicos que comprovam a alta eficiência do sistema na remoção de contaminantes emergentes, como os microplásticos. No entanto, a racionalidade técnica não foi um fim em si mesmo. Ela serviu de base para o debate nos moldes da macrotendência Crítica, que se concretizou de duas formas, são elas:
1. a constatação de que exite um racismo estrutural presente historicamente no funcionamento, distribuição e acesso ao saneamento básico no Brasil; e
2. por meio de dinâmicas como o "julgamento simbólico de uma garrafa plástica", que almeja transcender o apelo à responsabilidade individual para problematizar coletivamente os sistemas de produção, consumo e descarte.
Dessa forma, portanto, observa-se que esta visita, especialmente, exemplifica a potência da macrotendência Crítica como ferramenta capaz de situar um problema aparentemente técnico em seu contexto histórico, político, social e econômico.
Conclusão
A análise das práticas educativas citadas evidencia que a potência da macrotendência Crítica na Educação Ambiental não reside na negação de outras abordagens, mas em sua capacidade de articulá-las e superá-las. Desse modo, a experiência na trilha no parque ilustra o papel fundamental da abordagem conservacionista: proporcionar uma valiosa reconexão individual e afetuosa com a natureza. Contudo, demonstra também sua limitação quando debatida isoladamente da análise sociopolítica.
Paralelamente, no entanto, a práxis da visita à ETE revela um salto qualitativo gigantesco. Nesse contexto, a macrotendência Crítica da EA não apenas utiliza, mas ressignifica os elementos das outras concepções para um propósito político emancipador: a conexão afetiva (conservacionista) é mobilizada para construir um senso de responsabilidade individual e a informação técnica (pragmática) torna-se ferramenta para combater a desinformação.
Assim sendo, a macrotendência Crítica politiza estas dimensões, sem descartar a ciência ou a emoção; ao contrário, as ressignifica, deslocando o foco das perguntas "o quê?", "como?", “a serviço de quem?” para o questionamento fundamental: "por quê?".
Por fim, conclui-se que a abordagem Conservacionista é fundamental para despertar a sensibilidade, mas, isoladamente, é politicamente inócua. Por outro lado, o entendimento Pragmático, focado em conhecimentos técnicos, pode legitimar o mesmo modelo de desenvolvimento que gera a injustiça ambiental ao evitar o questionamento histórico, econômico e social.
Consequentemente, a vantagem da macrotendência Crítica reside na sua capacidade de superar dialeticamente as limitações das outras correntes, reconhecendo o problema ambiental como uma manifestação direta da crise civilizatória profunda, indissociável do capitalismo. Por esse motivo, ela não nega as outras correntes, todavia, demonstra suas insuficiências e incorpora seus elementos válidos em um projeto político-pedagógico mais amplo e radical.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES, ao CNPq e à FAPEMIG pelo apoio contínuo à pesquisa e à pós-graduação no Brasil, ecossistema que tornou este trabalho possível.
Referências
Carvalho, L. M.; Paiva, P. D. O; Acerbi Junior, F. W.; Coelho, S. J.; Simões, F. C. (2003). Caracterização e usos do parque florestal Quedas do Rio Bonito localizado na cidade de Lavras/MG - pesquisa de opinião. Revista Árvore, v. 27, n. 5, p. 737-745.
Festozo, M. B.; Queixas, R. C.; Nascimento Junior, A. F.; Tozoni-Reis, M. F. C. (2018). Relações históricas entre a Educação Ambiental e a Participação Social. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 11, n. 24, p. 253-266.
Layrargues, P. P. (2018). Para onde vai a educação ambiental? O cenário político-ideológico da educação ambiental brasileira e os desafios de uma agenda política crítica contra-hegemônica. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 11, n. 24, p. 253-266.
Layrargues, P. P.; Lima, G. F. C. (2014). As macrotendências político-pedagógicas da educação ambiental brasileira. Ambiente & Sociedade, v. 17, n. 1, p. 23-40.
Tozoni-Reis, M. F. C. (2006). Natureza, razão e história: contribuições para uma pedagogia da educação ambiental. In: V Colóquio de Pesquisa em Educação, 5., 2006, Poços de Caldas. Anais... Poços de Caldas: UEMG.

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Autor

Rossilvania Silva (UFLA)

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