Descrição
Abstract.This investigative analysis surveys the fields of experience provided in the National Common Curricular Base (BNCC) for Early Childhood Education, which can be approached in a joint and integral manner, becoming the foundation for the development of skills inherent to the Natural and Human Sciences, Languages, and especially Mathematics and Environmental Education. Therefore, the hypothesis of using the seasons of the year as a cross-curricular and articulating theme for pedagogical practices is explored, in a way that allows logical-mathematical reasoning to become an intrinsic tool for problem-solving, promoting the effective change of habits related to environmental management and conscious consumption.
Keywords: Early Childhood Education, Mathematics, Environmental Education.
Resumo.Esta análise investigativa realiza um levantamento dos campos de experiência previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aplicados à Educação Infantil que podem ser abordados de maneira conjunta e integral, tornando-se o alicerce para o desenvolvimento de habilidades inerentes às Ciências da Natureza e Humanas, das Linguagens e, especialmente da Matemática e da Educação Ambiental. Portanto, é trabalhada a hipótese da utilização das estações do ano como tema transversal e articulador para as práticas pedagógicas, de modo que permita que o raciocínio lógico-matemático se torne uma ferramenta intrínseca à resolução de problemas, promovendo, inclusive, a efetiva mudança de hábitos de gestão ambiental e consumo consciente.
Palavras-chave: Educação Infantil, Matemática, Educação Ambiental.
Introdução
A implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na Educação Infantil (BRASIL, 2018), inclina a busca por práticas pedagógicas que superem a fragmentação disciplinar e garantam aos alunos os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Nesse sentido, este estudo teórico defende que a formação de hábitos sustentáveis deve ser um processo contínuo, integrado e alicerçado nos diferentes Campos de Experiência propostos pelo documento normativo. Assim sendo, o principal objetivo desta análise é apresentar o tema das estações do ano como opção prática, cotidiana e integradora que demonstra como o raciocínio lógico-matemático e Educação Ambiental tornam-se intrínsecos ao pensamento da criança se estiverem aplicados aos espaços por elas frequentados e caso valham-se das Ciências da Natureza, Humanas e das Linguagens como um conjunto único de habilidades que as capacitam a tomar decisões conscientes e a gerir seus recursos.
Fundamentação Teórica
A proposta assenta-se em múltiplos pilares. Além, obviamente, da interdisciplinaridade da própria BNCC, abrangendo as Ciências da Natureza, Humanas e as Linguagens, baseia-se na ludicidade (KISHIMOTO, 2011) e na abordagem sensorial (GOLDSCHMIED, 2006).
No tocante à Matemática, principalmente na potencialização do raciocínio lógico, sabe-se que na Educação Infantil, conforme preceitua KAMII (1983), os bebês e crianças desenvolvem-se a partir da ação e interação com o meio. Nesse contexto, o reconhecimento de cores e formas constitui uma das primeiras ferramentas aperfeiçoadas, que não é um fim em si mesmo, tratando-se de um mecanismo precursor do pensamento classificatório/ordenador/sequenciador.
Já em relação à Educação ambiental, extremamente relevante socialmente, é abordada a partir do aproveitamento integral e gestão dos recursos e, especialmente, educação para o consumo. Esse último tópico destaca-se por seu potencial em capacitar as crianças a fazerem escolhas assertivas, comparando preço, qualidade, origem dos produtos, o custo-benefício, a coordenação de seu tempo, a utilidade etc.
Assim sendo, foi escolhido o tema das estações do ano, ou seja, da sazonalidade, como assunto integrador e potencializador dos campos de experiência previstos para a Educação Infantil na BNCC.
A abrangência dos Campos de Experiência da BNCC: hipóteses e propostas pedagógicas baseadas no tema estações do ano
O tema das estações do ano foi escolhido como ideia central, por ser algo cotidiano das pessoas desde o momento em que nascem. Ainda que um bebê não tenha a concepção de que existe a primavera e o outono, ele consegue perceber a diferença de temperatura, de umidade, de disponibilidade de luz solar, da presença de animais e da disponibilidade e qualidade de frutos e flores em cada época do ano. À vista disso, a medida que crescem e adquirem novas habilidades, ampliam suas concepções e compreensões sobre as estações do ano, dando periodicidade, nome e características aos fenômenos que observam todos os dias, o tempo todo em sua vida.
Além disso, a utilização deste assunto como um “plano de fundo” contínuo permite que os Campos de Experiência e as Áreas de Conhecimentos previstas na BNCC sejam revisitas, aprofundadas e expressas de múltiplas formas, consolidando o domínio das Ciências da Natureza, Humanas, das Linguagens, da Matemática e da Educação Ambiental e sua aplicabilidade diariamente.
Dessa forma, na Educação Infantil, torna-se imprescindível a análise individual de cada Campo de Experiência abordado na BNCC para compreender como o tema das estações do ano pode ser aplicado para o desenvolvimento de cada tópico e, ao mesmo tempo, integrador de todos eles, sendo:
1. O eu, o outro e o nós: focado na construção de percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros para diferenciar-se e, simultaneamente, identificar-se como ser individual e social, desenvolvendo autonomia, autocuidado, reciprocidade e interdependência com o meio, a partir da interação com os pares e com adultos. Nesse sentido, é preciso criar oportunidades para que os bebês e as crianças entrem em contato com essa diversidade, o que pode ser feito a partir da abordagem de costumes, celebrações, alimentação, disponibilidade de frutas, verduras e legumes, vestimentas, prática de esportes etc em cada uma das estações do ano em sua cidade, no seu estado, nas regiões do país e nos hemisférios do globo;
2. Corpo, gestos e movimentos: baseia-se nos cinco sentidos, nos gestos e movimentos impulsivos ou internacionais, coordenados ou espontâneos através dos quais os bebês e crianças estabelecem relações e produzem conhecimento sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural. Portanto, utilizando-se das linguagens, tais como a música, a dança e o teatro e as estações do ano, costumes, celebrações (danças e festivais) sazonais como tema central, é possível a comunicação e expressão no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem, para reconhecer suas potencialidades e seus limites e o que pode ser um risco à sua integridade física;
3. Traços, sons, cores e formas: sustenta-se nas manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, exteriorizadas por meio de diversas expressões e linguagens, como as artes visuais (pintura, colagem, fotografia etc), música, teatro, dança e produções audiovisuais. Dessa forma, utilizando o tema das estações do ano, é possível trabalhar como a natureza se comporta em cada época, as cores que assume, a forma dos animais e dos alimentos para promover um senso estético e crítico sobre a sazonalidade e os recursos disponíveis. Ademais, é possível a utilização de materiais e recursos tecnológicos para o exercício da autoria individual e coletiva na produção de vídeos e músicas;
4. Escuta, fala, pensamento e imaginação: um dos primeiros métodos utilizados pelos bebês para interação social são o choro e vários recursos vocais, que obtém sentido com a interpretação do outro. Nesse sentido, com o passar do tempo, as crianças vão enriquecendo e ampliando o seu vocabulário, expressões, capacidade de compreensão e apropriação da língua materna, o que potencializa sua participação na cultura oral. Paralelamente, a curiosidade sobre a cultura escrita nasce justamente quando os bebês ou crianças escutam e acompanham a leitura de textos dos mais diversos gêneros. Além disso, e as hipóteses sobre a escrita se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, são indicativos da compreensão do sistema de representação da língua. À vista disso, utilizando o tema das estações do ano, é possível entoar cânticos, contar histórias e ler e produzir textos dos diversos gêneros que abordem sazonalidades (por exemplo, temperatura, cores, animais, comidas etc); e
5. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações: fundamenta-se no fato de que desde bebês as pessoas buscam situar-se em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã; etc). Ademais, a medida que crescem, observam que o mundo é constituído de fenômenos naturais/físicos (seu corpo, fenômenos atmosféricos, animais, plantas, transformação da natureza, diferentes tipos de materiais etc) e um mundo sociocultural. Desse modo, os bebês e crianças se deparam, frequentemente, com o raciocínio lógico e outros conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, quantidades, dimensões, medidas, comparação de tamanho e peso, distância, figuras geométricas, numerais etc), que podem ser aplicados de maneira simples, lúdica, eficaz e interessante utilizando o tema das estações do ano (que por si só trata de passagem de tempo, então se associada a calendários, relógios e concepção de dia e noite pode também apresentar o conceito de ciclos).
A Educação Ambiental e a criação de consciência ecológica
Na Educação Infantil, a BNCC prevê o Campo de Experiência “espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”, que em alguns objetivos de aprendizagem e desenvolvimento trabalham noções muito básicas de Educação Ambiental.
Desse modo, este estudo propõe abordagens vívidas, cotidianas e afetivas para que desde bebês os indivíduos absorvam as práticas de gestão de recursos, especialmente os ambientais, para que os hábitos ecológicos se tornem intrínsecos ao dia a dia e sejam majorados a medida que desenvolvem raciocínio lógico e a consciência de si, do outro e do mundo. Nesse sentido, enumerou-se quatro sugestões a seguir, são elas:
1. “Livro-Jogo Sensorial”: é focado na alfabetização de formas e cores, principalmente àquelas ligadas à natureza (seja o formato de folhas, flores, frutos, animais ou resíduos de consumo gerado pelas pessoas), com alto-contraste visual e variedade de texturas. Este material trabalha a ação de tocar e sentir, que é habilidade precursora da nomeação, comparação e setorização;
2. “Dança com Elementos Naturais”: brincadeiras, danças e movimentos com tecidos leves, fitas (vento), com chuva (água), na grama ou terra etc permitem que os bebês e crianças explorem os fenômenos naturais com o corpo todo, desenvolvendo a consciência corporal, espacial e do comportamento e qualidade dos recursos disponíveis na natureza, como se o ar está úmido ou seco, por exemplo;
3. “Músicas e Rotinas de Autocuidado e Preservação”: as rotinas diárias de higiene podem ser associadas aos recursos disponíveis e a importância de sua gestão através de canções que ensinem aos bebês a importância economizar água ou de separar o lixo corretamente, por exemplo. Esse mecanismo, se aplicado com afeto e constância promoverá hábitos sustentáveis intrínsecos, com propósito e duradouros; e
4. “Cestos de Tesouros da Natureza”: de acordo com a estação do ano vigente, serão ofertados ao bebê ou criança, cestos com elementos na paleta de cores correta, com formas e texturas variadas, folhas e sementes da época, brinquedos com frutas, legumes e verduras do ciclo, roupas adequadas à temperatura etc. Dessa forma, a abordagem sensorial desde o berçário garante que quando a criança crescer terá um repertório corporal, cognitivo e emocional suficientemente grande para que possa compreender e propor atividades mais complexas, tanto de Matemática (contar, classificar etc) e de Educação e Gestão Ambiental (oferta e qualidade de recursos, por exemplo).
Considerações Finais
Este estudo demonstrou que a proposta interdisciplinar da BNCC pode ser efetivamente desenvolvida a partir de um eixo temático prático, cotidiano e integrador: as estações do ano. Isso ocorre porque o ser humano entra em contato com o assunto abordado desde o momento em que é concebido, já que, ainda que não domine a tecnicalidade do tema, consegue perceber a mudança de temperatura, de umidade, de disponibilidade de luz solar, a qualidade de alimentos etc. Além disso, as estações do ano é um tópico que retrata a natureza e suas ciências, mas também aborda a sazonalidade e, portanto, a passagem (medida) de tempo. Outrossim, desde os primórdios da humanidade, são produzidas histórias, cânticos, festas e teatros temáticos (para agradecer à colheita ou celebrar um solstício, por exemplo).
Assim sendo, observa-se que esta análise articula os conhecimentos das Ciências da Natureza, Humanas, das Linguagens, da Matemática e da Educação Ambiental, utilizando-se do tema das estações do ano aplicado aos Campos de Experiência enumerados pela BNCC, para proporcionar que todos os objetivos de aprendizagem sejam atingidos, além de que o raciocínio lógico e os hábitos sustentáveis tornem-se intrínsecos ao pensamento de bebês e crianças para que eles se capacitem a tomar decisões conscientes e a gerir seus recursos a medida que forem crescendo.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES, ao CNPq e à FAPEMIG pelo apoio contínuo à pesquisa e à pós-graduação no Brasil, ecossistema que tornou este trabalho possível.
Referências
Barbosa, Ana Mae. A Imagem no Ensino da Arte: Anos 1980 e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 2009.
Brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
Castellar, Sonia M. V. Educação Geográfica: A psicogenética e o conhecimento escolar. São Paulo: Contexto, 2011.
Gil, Bela. Bela cozinha: as receitas. Rio de Janeiro: Globo Estilo, 2014.
Goldschmied, Elinor; Jackson, Sonia. Educar os bebês em centros infantis: propostas de políticas e de práticas. Porto Alegre: Penso, 2016.
Kamii, Constance; DeVries, Rheta. O conhecimento físico na educação pré-escolar: implicações da teoria de Piaget. Porto Alegre: Artmed, 1991.
Kishimoto, Tizuko Morchida. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
Loureiro, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
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