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Arte, Ciência e Educação: A Cerâmica como Possibilidade Pedagógica na Formação Docente em Biologia

12 de nov. de 2025 13:30
1h 30m
Centro de Eventos (UFLA)

Centro de Eventos

UFLA

Avenida Norte - Lavrinhas, Lavras - MG, 37200-900
Resumo Expandido Educação Científica e Ambiental 3º Dia

Descrição

Karoline Silva Carvalho1, Laise Vieira Gonçalves2, Antonio Fernandes Nascimento Junior2
1Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Educação Científica e Ambiental/PPGECA – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Caixa Postal 3037 CEP 37203-202 – Lavras, MG – Brasil
2Docentes do Programa de Pós- Graduação em Educação Científica e Ambiental/PPGECA – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Caixa Postal 3037 CEP 37203-202 – Lavras, MG – Brasil
karoline.carvalho1@estudante.ufla.br, laiseribeiro@ufla.br, antoniojunior@ufla.br

Abstract. Science teaching is often conducted in isolation, decontextualized, and distant from students' realities. Art presents an opportunity to broaden perspectives, integrate knowledge, bridge the gap between art and science, discuss various issues surrounding the topics covered, and establish connections between science, culture, and society. Thus, ceramics presents itself, in this context, as an opportunity to engage knowledge, encourage critical reflection, and help make the teaching-learning process more meaningful.
Keywords: Ceramics, science teaching, art and education, teacher training.

Resumo. O ensino de Ciências muitas vezes é conduzido de forma isolada, descontextualizada e distante da realidade dos alunos. A Arte aparece como uma oportunidade de ampliar perspectivas, integrar conhecimentos, aproximar arte e ciência, discutir diferentes problemáticas em torno dos temas abordados e estabelecer conexões entre ciência, cultura e sociedade. Assim, a cerâmica se apresenta, nesse contexto, como uma possibilidade que dialoga saberes, estimula a reflexão crítica e ajuda a tornar o processo de ensino-aprendizagem mais significativo.
Palavras-chave: Cerâmica, ensino de Ciências, arte e educação, formação de professores.
Introdução
Em uma prática pedagógica, é importante buscar formas de compartilhar o conhecimento conectadas à realidade dos alunos, tornando-o mais significativo. A Arte pode ser aliada nesse processo, pois, integrada à Ciência, tem potencial para enriquecer o ensino e ampliar a compreensão dos conteúdos. Campos (2002) reafirma a importância dessa troca ao argumentar que o conhecimento se constrói por meio do diálogo, e que, ao reconhecer diferenças, possibilita compreensão mútua e abre espaço para novas formas de interpretar situações contextos socioculturais.
No ensino de Ciências, é um desafio evitar a desarticulação e o distanciamento do cotidiano do aluno, exigindo práticas que superem a simples exposição de conteúdos da pedagogia tradicional. Saviani (2011) critica esse modelo por não estimular reflexão crítica, reproduzir desigualdades e beneficiar grupos privilegiados, sendo necessário superá-lo para favorecer a transformação social. Por isso, contextualizar o conhecimento a partir da realidade dos estudantes é essencial, abrindo espaço para discussões críticas e favorecendo a construção do saber.
Ao relacionar Arte e Ciência por meio da cerâmica, surge a oportunidade de reconhecer como essas áreas se conectam, promovendo discussões crítico-reflexivas além dos conceitos biológicos e ampliando a formação dos alunos. O estudo de Rosario e Silva (2024) exemplifica essa possibilidade ao mostrar que o trabalho dos ceramistas da Vila Cuera envolve um domínio empírico, baseado em observação, prática e experiência de princípios da Física, como a transferência de calor. Os autores destacam ainda que, mesmo sem formação acadêmica, esses ceramistas integram conhecimentos científicos construídos pela experiência, evidenciando que práticas tradicionais valorizam tais saberes. Este estudo discute a viabilidade da cerâmica no ensino de Ciências, mostrando que ela vai além da expressão artística, também oferece a oportunidade de incentivar a criticidade e a aprendizagem dos alunos.
Referencial Teórico
O conceito de Ciências muitas vezes é visto apenas como a disciplina denominada Ciências. Ao se falar em “aula de Ciências”, geralmente se imagina uma disciplina isolada, com conteúdos fragmentados e, muitas vezes, restritos à Biologia, o que empobrece a compreensão do que ela realmente abrange e significa. Por isso, é importante que os conteúdos não sejam trabalhados de forma separada, mas de maneira integrada, apontando as ligações entre esses conceitos (Lovat; Lobino; Sgarbi, 2017).
Nesse sentido, a Arte surge como alternativa para romper a visão limitada do conhecimento, a fim de tornar a Ciência mais dialogada com a sociedade, a cultura e o meio ambiente. Ao promover esse diálogo, a aprendizagem se amplia, mostrando como os diferentes saberes se relacionam entre si e aperfeiçoando a visão de mundo do indivíduo. Para que isso aconteça, os professores devem estar preparados para acompanhar as necessidades da sociedade e da educação, superando a fragmentação do conhecimento no ensino e na formação de professores, assim como defendem (Lovat; Lobino; Sgarbi, 2017). Wippel e Gebara (2022) afirmam essa condição ao argumentar que ao se apropriar dos conceitos científicos, o futuro professor desenvolve sua formação cultural, compreendendo que o conhecimento só ganha sentido quando contextualizado
Também é importante mostrar aos alunos que a aprendizagem não se restringe à sala de aula. Segundo Silva et al. (2020, p. 15), “é notório que o aprendizado não se restringe ao espaço físico da escola, ele abrange um espaço mais amplo e não envolve delimitações”. Diferentes espaços, como museus e centros culturais, oferecem oportunidades de novas formas de aprendizagem, em que exposições e atividades contribuem para aproximar os estudantes da ciência, evitando que ela pareça distante e de difícil compreensão. Segundo Pinheiro et al. (2018), os museus são particularmente relevantes para o ensino de Ciências, pois permitem o contato direto com os saberes científicos, favorecendo o interesse pelo conhecimento e ampliando a compreensão sobre o mundo. Wippel e Gebara (2022) defendem que essa aproximação entre Ciência e Arte incentiva discussões frequentemente ausentes no ensino de Ciências, como as culturais, sociais e éticas, contribuindo para valorizar experiências e superar a hegemonia sociocultural.
Diante dessas reflexões, entende-se que essa relação pode ajudar a construir práticas pedagógicas mais amplas. Pensar o ensino de forma integrada significa valorizar diferentes formas de conhecimento. Também se mostra relevante repensar a formação docente, considerando que os professores atuam como mediadores e buscam elaborar metodologias que façam sentido para os alunos e estejam ligadas às demandas sociais, reforçando a ideia de Moraes (2023) de que o professor deve desenvolver práticas pedagógicas que aproximem os alunos do conhecimento.
Nesse contexto, a cerâmica apresenta-se como um recurso potencial, capaz de tornar a aprendizagem mais atrativa e favorecer o diálogo entre Arte e Ciência, aproximando diferentes saberes. Diehl (2017) observa que “a arte, a cerâmica e a cultura possibilitam instigar a curiosidade dos estudantes para compor uma dimensão formativa” (p. 90), contribuindo para o fortalecimento das relações de ensino e aprendizagem. Diehl (2017), ressalta que, em seu estudo, num contexto integrado de ensino, pesquisa e extensão, a prática com a cerâmica proporcionou novas formas de perceber, pensar e agir, promovendo experiências criativas e reflexivas. Essa prática ajudou a repensar métodos tradicionais de ensino e a refletir sobre o papel social e transformador da educação.
Ao pensar o ensino de Ciências, é importante reconhecer que existem diferentes formas de produzir conhecimento. Nesse sentido, de acordo com Silva e Baptista (2018), o conhecimento científico e tradicional devem se complementar por meio de um diálogo contínuo, sem que um sobreponha o outro, valorizando o papel de cada um no processo de aprendizagem.
É sabido que o conhecimento tradicional reúne saberes valiosos para a vida e a relação com a natureza. Trazer esses saberes para a sala de aula pode ajudar na aproximação do ensino à realidade cotidiana dos alunos. Além disso, a partir da perspectiva de Diehl (2017), a cerâmica possibilita abordar conteúdos relacionados às relações étnico-raciais, afro-brasileira e indígena, englobando aspectos históricos, culturais e artísticos. Com base nessas observações, entende-se que ela pode possibilitar a abordagem de diversas problemáticas que contribuem para o fortalecimento do processo educativo, destacando-se entre elas as questões ambientais.
Segundo Vargas (2016), o processo de extração de argila em olarias, destinada à indústria cerâmica, envolve o decapeamento do solo, podendo causar erosão, alterar a paisagem e contaminar águas subterrâneas. Com base nisso, por exemplo, é possível desenvolver aulas sobre os impactos ambientais dessas fábricas, relacionando o processo industrial ao uso consciente dos recursos naturais. Também podem ser abordados aspectos biológicos, como a influência do clima e do solo nas práticas locais, adaptações na alimentação, moradia e produção cultural em diferentes biomas, além de reflexões sobre dimensões sociais, culturais e políticas e a relação entre práticas artesanais e processos industriais contemporâneos.
De acordo com Diehl (2017), a arte, a cerâmica e a cultura permitem despertar a curiosidade dos estudantes, compondo uma dimensão formativa, fortalecendo as relações de ensino e aprendizagem e apoiando a prática pedagógica. Nesse sentido, ao trazer uma peça cerâmica para a sala de aula, abre-se um universo de possibilidades educativas que vão além do aspecto estético, podendo permitir a abordagem de aspectos culturais, históricos e ambientais relacionados à produção da peça.
Metodologia
O presente estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico, voltada à discussão do uso da cerâmica no ensino de Ciências e na formação de professores. Foram analisados materiais acadêmicos por meio de leitura reflexiva, considerando experiências pedagógicas que articulam Arte, Ciência e Educação, evidenciando a relevância da cerâmica como prática educativa.
Resultados e discussões
Para ilustrar as ideias discutidas, foram coletados relatos de alunos que participaram de uma oficina de cerâmica durante a Semana da Primavera dos Museus, na UFLA, em 25 de setembro de 2025. A atividade integrou Educação Científica e Ambiental à prática com a cerâmica, incluindo uma breve introdução sobre sua história e uma parte prática com a técnica do belisco. Participaram 13 alunos, sendo selecionados os relatos mais próximos dos objetivos do estudo.
De modo geral, os estudantes demonstraram interesse e envolvimento. Alguns comentários destacaram a experiência prática e o aprendizado sobre a história da cerâmica: “nos aproximou deste mundo e nos permitiu entender melhor sobre tal arte” (Aluno 1); “aprendemos muito sobre a história da cerâmica, sua origem e importância” (Aluno 2); “a parte prática foi incrível, adorei a experiência” (Aluno 8). Outros perceberam a relação da oficina com o ensino de Ciências: “o exemplo de uso da cerâmica em sala de aula para explicações de conteúdos biológicos, como a paleontologia” (Aluno 11); “permitiu compreender a importância da cerâmica para a humanidade e como podemos utilizá-la em abordagens pedagógicas” (Aluno 12).
Mesmo sem o objetivo de discutir aspectos pedagógicos de forma profunda, os relatos mostram que os estudantes reconheceram, ainda que de forma simples, que a arte pode aproximar a ciência do cotidiano. Assim, as experiências vivenciadas na oficina ajudam a refletir sobre o potencial da cerâmica no ensino, mostrando como práticas desse tipo podem despertar interesse, curiosidade e novas formas de aprender.
Considerações Finais
O estudo reflete a possibilidade de que a cerâmica, quando usada no ensino de Ciências, ajude a superar a separação entre os conteúdos e favorecer práticas mais integradas. Mais do que uma expressão artística, ela pode ser uma experiência pedagógica que aproxima Arte, Ciência e Sociedade, promove discussões sobre questões ambientais, culturais e sociais e ainda estimula o pensamento crítico dos alunos. Essa integração torna a Educação Científica mais significativa quando em diálogo com diferentes formas de conhecimento.
Nesse sentido, a cerâmica funciona como ponte que conecta culturas e práticas diversas, aproximando a ciência do cotidiano e tornando a aprendizagem mais crítica e contextualizada. O docente desempenha papel essencial nesse processo, ao pensar metodologias que façam sentido para os alunos e estejam alinhadas às demandas sociais e culturais contemporâneas, fortalecendo a educação reflexiva. Este trabalho reflete sobre a importância de integrar Arte e Ciência no ensino, com destaque na utilização da cerâmica nesse processo. Pesquisas futuras poderão aprofundar a discussão por meio de outras experiências práticas, ampliando a compreensão sobre seus efeitos na aprendizagem e na formação docente.
Agradecimentos
CAPES, CNPq e FAPEMIG.
Referências
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Wippel, M.; Gebara, M. J. F. Arte, Ciência e Educação: um encontro necessário. Educação Pública – Divulgação Científica e Ensino de Ciências, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 29–34, mar. 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/divulgacao-cientifica/index.php/educacaopublica/article/view/61/29

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Autor

Karoline Silva Carvalho (UFLA)

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