Descrição
O poema “O Homem: as viagens” de Drummond como proposta pedagógica na formação de professores
Fábio Henrique Moisés1, Marco Túlio Jorge Cortez1, Laise Vieira Gonçalves2, Antonio Fernandes Nascimento Junior2
1Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Ambiental/ICN – Universidade Federal de Lavras (UFLA) Caixa Postal 3037 CEP 37203-202 – Lavras, MG – Brasil
2Departamento de Biologia/ICN – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Caixa Postal 3037 CEP 37203-202 – Lavras, MG – Brasil
fabiomoises@ufla.br,mtcortezz@gmail.com,laiseribeiro@ufla.br,antoniojunior@ufla.br,
Abstract. This extended abstract addresses the interpretative potential of Carlos Drummond de Andrade’s poem “O Homem: as viagens”, highlighting its relevance for teacher education. The central problem concerns the gap between technological achievements, often celebrated in educational contexts, and the critical reflection on their social and existential implications. The objective is to identify the thematic axes structuring the poem and to analyze their pedagogical applicability in the formation of teachers. The research adopts a qualitative approach supported by literary analysis, focusing on a stanza-by-stanza examination combined with theoretical contributions from literary criticism and educational studies. The analysis revealed two main axes: the scientific axis, which emphasizes technological conquest and the narrative of spatial expansion, and the social axis, which denounces existential dissatisfaction, social inequalities, and the reproduction of colonialist logics. The pedagogical proposal derived from these findings suggests that the poem can be used as a didactic tool to foster critical reading, interdisciplinarity, and reflection on the paradox between scientific progress and human values. In conclusion, the study demonstrates that Drummond’s poem transcends literary analysis, constituting a resource for teacher education that stimulates self-reflection, critical awareness, and the pursuit of humanization as a central educational horizon.
Keywords: Poem, formation, teachers.
Resumo. Este resumo expandido analisa o potencial interpretativo do poema “O Homem: as viagens”, de Carlos Drummond de Andrade, destacando sua relevância para a formação de professores. O problema central reside no descompasso entre os avanços tecnológicos, frequentemente exaltados em contextos educacionais, e a necessária reflexão crítica sobre suas implicações sociais e existenciais. O objetivo é identificar os eixos temáticos que estruturam o poema e discutir suas possibilidades pedagógicas. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, fundamentada em análise literária estrófica, associada a aportes teóricos da crítica literária e dos estudos em educação. A análise evidenciou dois eixos principais: o científico, que ressalta a conquista tecnológica e a narrativa de expansão espacial, e o social, que denuncia a insatisfação existencial, as desigualdades sociais e a reprodução de lógicas colonialistas. A proposta pedagógica decorrente sugere a utilização do poema como recurso didático para estimular a leitura crítica, a interdisciplinaridade e a reflexão sobre o paradoxo entre progresso científico e valores humanos. Conclui-se que a obra de Drummond ultrapassa a análise literária, configurando-se como um recurso formativo capaz de promover a autocrítica, a consciência social e a busca da humanização como horizonte central da educação.
Palavras-chave: Poema, formação, professores.
Introdução
O poema "O Homem; as viagens", de Carlos Drummond de Andrade foi publicado primeiramente no jornal Correio da Manhã (Rio de Janeiro - RJ) em 1969 e, posteriormente, no livro "As Impurezas do Branco", em 1973, pela Livraria José Olympio Editora (GODOI, 2022). Por conseguinte, em referência ao livro, consta-se a reunião de poemas escritos por Drummond entre o final da década de 1960 e o início dos anos 1970, período globalmente marcado por fortes reflexões sociais, existenciais e tecnológicas - temas que estão presentes no poema (TALARICO, 2011).
Ao se vogar no poema, observa-se a narrativa em que o ser humano empreende uma série de deslocamentos interplanetários, realizando ações de reconhecimento, ocupação e transformação de diferentes corpos celestes. Assim, por meio de uma linguagem que articula elementos científicos, históricos e existenciais, o texto destaca a observação dos modos como o sujeito humano se posiciona perante o universo e a si mesmo. Em vista, elabora-se uma reflexão crítica sobre os limites da racionalidade humana e as consequências de sua busca incessante por domínio e expansão ().
Para tanto, o presente trabalho propõe a identificação e a análise dos eixos temáticos que estruturam o poema, com foco nas recorrências discursivas e nos sentidos evocados pelas repetições e progressões da ação poética. Desse modo, a análise se pauta por uma leitura interpretativa, voltada a compreender os sentidos possíveis da obra, no contexto de sua construção simbólica e crítica (MACIEL e TEIXEIRA, 2016). Nessa senda, pretende-se evidenciar como o poema pode ser utilizado na formação de professores.
Destarte, a escolha do poema fundamenta-se não apenas no interesse do autor por temas referentes ao espaço e ao universo, mas também na crítica implícita à condição humana. Outrossim, evidencia-se a desigualdade social e as misérias terrenas ante ao paradoxo do progresso científico. Logo, a obra instiga à problematização crítica sobre os limites da conquista tecnológica quando contrastadas com os problemas não resolvidos da vida na Terra, revelando a complexidade e profundidade da poesia de Carlos Drummond de Andrade (TALARICO, 2011).
Drsenvolvimento
Nesse contexto, apresenta-se o poema e salienta-se o sinal de pontuação barra “/” como delimitador de quebra de linha, de modo dispor-se: “[1ª estrofe] O homem, bicho da Terra tão pequeno / chateia-se na Terra / lugar de muita miséria e pouca diversão, / faz um foguete, uma cápsula, um módulo / toca para a Lua / desce cauteloso na Lua / pisa na Lua / planta bandeirola na Lua / experimenta a Lua / coloniza a Lua / civiliza a Lua / humaniza a Lua. [2ª estrofe] Lua humanizada: tão igual à Terra. / O homem chateia-se na Lua. / Vamos para Marte — ordena a suas máquinas. / Elas obedecem, o homem desce em Marte / pisa em Marte / experimenta / coloniza / civiliza / humaniza Marte com engenho e arte. [3ª estrofe] Marte humanizado, que lugar quadrado. / Vamos a outra parte? / Claro — diz o engenho / sofisticado e dócil. / Vamos a Vênus. / O homem põe o pé em Vênus, / vê o visto — é isto? / Idem / idem / idem. [4ª estrofe] O homem funde a cuca se não for a Júpiter / proclamar justiça junto com injustiça / repetir a fossa / repetir o inquieto / repetitório. [5ª estrofe] Outros planetas restam para outras colônias. / O espaço todo vira Terra-a-terra. / O homem chega ao Sol ou dá uma volta / só para tever? / Não-vê que ele inventa / roupa insiderável de viver no Sol. / Põe o pé e: / mas que chato é o Sol, falso touro / espanhol domado. [6ª e última estrofe] Restam outros sistemas fora / do solar a colonizar. / Ao acabarem todos / só resta ao homem / (estará equipado?) / a dificílima dangerosíssima viagem / de si a si mesmo: / pôr o pé no chão / do seu coração / experimentar / colonizar / civilizar / humanizar / o homem / descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas / a perene, insuspeitada alegria / de con-viver.”.
Para realizar a análise literária do poema, selecionou-se a estratégia de análise por estrofe que consiste em uma forma de interpretação muito utilizada na crítica de poemas. Nesse método, cada estrofe será examinada individualmente para compreender seu conteúdo, forma, estilo e relação com o todo do texto (KORYTOWSKI, 2021).
Análise da primeira estrofe: O poema começa estabelecendo a premissa central: a insatisfação humana ("chateia-se"). O homem é apresentado como um "bicho pequeno", diminuído em sua própria casa, a Terra, que ele percebe como um lugar de sofrimento e tédio. A solução que ele encontra não é interna, mas externa e tecnológica: a conquista do espaço. A sequência de verbos ("Desce", "Pisa", "Planta", "Experimenta", "Coloniza", "Civiliza", "Humaniza") descreve um processo de apropriação que espelha o colonialismo histórico. Ele não vai à Lua para aprender com ela, mas para impor a sua própria imagem e sistema sobre ela, culminando na "humanização" do satélite.
Análise da segunda estrofe: Esta estrofe revela a ironia e a futilidade da empreitada. Ao "humanizar" a Lua, o homem apenas recriou as condições que o fizeram fugir da Terra. O tédio retorna, provando que o problema não era o lugar, mas o próprio homem. A solução, novamente, é a fuga para um lugar ainda mais distante: Marte. A frase "ordena a suas máquinas" destaca o domínio tecnológico, mas também a passividade com que a tecnologia serve a esse ciclo de insatisfação. O processo de colonização se repete, agora "com engenho e arte", uma expressão irônica que sugere que a repetição do erro está se tornando mais sofisticada, mas não mais sábia.
Análise da terceira estrofe: O ciclo se acelera. Marte, uma vez "humanizado", torna-se "quadrado" (gíria para chato, sem graça). A busca continua. O diálogo com o "engenho" (a tecnologia) personifica a máquina como uma cúmplice dócil e acrítica da inquietação humana. A chegada a Vênus é tratada com um desdém crescente. A pergunta "é isto?" revela a profunda decepção. A repetição da palavra "Idem" (o mesmo, igual) é genial, pois comprime e banaliza a grandiosidade da exploração espacial, reduzindo-a a uma repetição monótona e sem sentido.
Análise da quarta estrofe: Aqui, o poema explicita o que o homem leva consigo. A viagem não é mais sobre tédio, mas sobre uma compulsão ("funca a cuca"). E o que ele exporta para o universo são as suas próprias contradições ("justiça junto com injustiça"), seu sofrimento ("fossa") e sua angústia existencial ("inquieto"). A palavra "Repetitório" encerra a estrofe de forma lapidar, confirmando que toda a expansão cósmica é apenas a repetição de um mesmo roteiro falho.
Análise da quinta estrofe: A ambição se torna ilimitada, mas o resultado é paradoxal: ao invés de expandir seus horizontes, o homem torna o universo inteiro mundano, um "Terra-a-terra". A conquista do Sol, o ápice da arrogância tecnológica ("roupa insiderável"), leva à mesma conclusão. O Sol, símbolo máximo de poder e luz, é rebaixado a um "falso touro espanhol domado" – uma força da natureza vencida e, por isso, desprovida de seu mistério e encanto. A conquista aniquila a admiração.
Análise da última estrofe: Esta é a virada e a conclusão do poema. Após esgotar o universo exterior, a única fronteira que resta é a interior. Drummond questiona se o homem, tão equipado para as viagens espaciais, está preparado para esta jornada ("estará equipado?"). O poeta, então, reapropria os mesmos verbos de conquista ("experimentar", "colonizar", "civilizar", "humanizar"), mas os redireciona para o próprio homem. A verdadeira "humanização" não é a de planetas, mas a do próprio ser humano. A solução para a insatisfação inicial não está na fuga, mas no autoconhecimento e na conexão com os outros, expressa na palavra final, "con-viver", que significa tanto "viver com" os outros quanto "viver junto" de si mesmo em harmonia.
O Eixo Científico (A Conquista Tecnológica)
O eixo científico é a estrutura externa do poema, o motor que impulsiona a narrativa. Ele é demonstrado através de vocabulário técnico: o uso de palavras como "foguete", "cápsula", "módulo", e a menção aos planetas (Lua, Marte, Vênus, Júpiter, Sol) e sistemas solares, enquadra o poema no contexto da ciência e da exploração espacial. Outrossim, Ação Impulsionada pela Tecnologia: O homem não viaja por meios místicos, mas através do "engenho e arte" de suas "máquinas". A tecnologia é apresentada como uma ferramenta poderosa, obediente e "dócil", capaz de feitos extraordinários, como criar uma "roupa insiderável de viver no Sol".
Conjuntamente, Crítica à instrumentalização da Ciência: Drummond não critica a ciência em si, mas o seu uso como ferramenta de fuga. A tecnologia permite ao homem ir a qualquer lugar, mas não o ensina a ser em lugar nenhum. O eixo científico mostra o poder do homem para modificar e alcançar o mundo exterior, mas evidencia a sua incapacidade de resolver seu vazio interior apenas com essas ferramentas. A ciência torna-se cúmplice da repetição, não da verdadeira descoberta.
O Eixo Social (A Crítica Existencial e Colonialista)
O eixo social é é o núcleo temático do poema, a sua mensagem mais profunda. Ele se manifesta no porquê e no resultado das viagens científicas. Assim, o ponto de partida social: A jornada começa com uma crítica à vida na Terra: "muita miséria e pouca diversão". Essa insatisfação é a mola propulsora de toda a ação, um problema de ordem existencial e social.
Observa-se também a metáfora do colonialismo: o processo de - Pisa ... Experimenta ... Coloniza ... Civiliza ... Humaniza - é uma alegoria direta da expansão colonial. O homem não encontra novas formas de vida, ele impõe a sua, transformando o "outro" (os planetas) em um espelho de si mesmo. Ele exporta seu modo de vida, suas estruturas e, consequentemente, seus problemas. Paralelamente, evidencia-se a exportação das mazelas humanas: o poema deixa claro que o homem leva em sua bagagem espacial suas falhas sociais e existenciais: o tédio ("chateia-se"), as contradições ("justiça junto com injustiça"), o sofrimento ("fossa") e a angústia ("inquieto"). O universo se torna uma extensão dos problemas da Terra.
Por conseguinte, delineia-se a solução é social e interior: a conclusão do poema abandona o eixo científico para focar exclusivamente no social e no pessoal. A verdadeira viagem é "de si a si mesmo". A solução não é conquistar mais, mas aprender a "con-viver". Este termo final é a chave: a alegria não está na posse ou na dominação, mas na coexistência, na comunidade, na relação consigo mesmo e com o próximo.
A Viagem Interior: uma análise pegagógica crítica de “O Homem: as viagens” de Carlos Drummond de Andrade sob a óptica da formação de professores
O poema "O Homem: as viagens", de Carlos Drummond de Andrade, publicado em "As Impurezas do Branco" (1973), representa um recurso pedagógico de imensa riqueza para o Ensino Médio. Em sua aparente simplicidade narrativa, a obra condensa uma profunda reflexão sobre a condição humana, articulando a grandiosidade da conquista tecnológica com a persistência do vazio existencial. Este texto propõe uma abordagem didática para explorar o poema em sala de aula, focando na identificação e análise de seus dois eixos estruturantes: o científico e o social. O objetivo é capacitar o professor a mediar uma leitura que transcenda a superfície do texto, fomentando o pensamento crítico e a conexão interdisciplinar (LEITE, 2008).
A premissa da proposta reside em guiar os estudantes a perceberem a dualidade central do poema. De um lado, temos o Eixo Científico, que funciona como o motor da narrativa. Ele é evidenciado pelo vocabulário técnico ("foguete, cápsula, módulo"), pela progressão da jornada interplanetária (Lua, Marte, Vênus) e pela representação da tecnologia como um "engenho sofisticado e dócil". Este eixo retrata a capacidade humana de dominar a natureza e expandir suas fronteiras físicas de maneira quase ilimitada. Contudo, Drummond utiliza essa estrutura não para celebrar o progresso, mas para ironizá-lo.
Assim, é aqui que emerge o Eixo Social, o coração crítico do poema. A jornada espacial não se inicia por um nobre desejo de conhecimento, mas por uma insatisfação terrena: "O Homem […] Chateia-se na Terra / Lugar de muita miséria e pouca diversão". A partir daí, a expansão tecnológica se revela uma metáfora do colonialismo histórico. A sequência de verbos — "Pisa, Experimenta, Coloniza, Civiliza, Humaniza" — não descreve um encontro, mas uma imposição. O homem não viaja para descobrir o novo, mas para replicar o velho, exportando para o cosmos suas próprias mazelas: o tédio, a contradição ("justiça junto com injustiça") e a angústia ("a fossa"). Ao "humanizar" o universo, ele apenas o transforma em um "Terra-a-terra", um espelho monótono de seus problemas não resolvidos.
Para traduzir essa análise em prática de sala de aula, sugere-se uma sequência didática dividida em etapas. A atividade pode começar com uma sensibilização, ativando o conhecimento prévio dos alunos com perguntas provocadoras sobre a corrida espacial, os limites da tecnologia e o conceito de felicidade. Esse debate inicial prepara o terreno para a recepção do poema. Em seguida, a leitura deve ser feita em dois momentos: uma primeira, silenciosa e individual, seguida por uma leitura expressiva realizada pelo professor, para que o ritmo e a repetição ressoem e causem impacto.
O núcleo da atividade consiste na análise guiada. O professor pode dividir a lousa em duas colunas, "Viagem para Fora (Eixo Científico)" e "Viagem para Dentro (Eixo Social)", e, por meio de perguntas direcionadas, conduzir os alunos a preencherem os espaços com elementos do poema. Essa estratégia visual ajuda a organizar o pensamento e a materializar a dualidade do texto. A discussão culmina na análise da última estrofe, o ponto de virada onde o poeta abandona a jornada exterior para propor "a dificílima dangerosíssima viagem / de si a si mesmo". Neste momento, os verbos de conquista são ressignificados: "experimentar, colonizar, civilizar, humanizar" voltam-se para o próprio homem.
Finalmente, a síntese deve reforçar que a verdadeira "humanização" proposta por Drummond não é a dominação, mas o autoconhecimento e a descoberta da "perene, insuspeitada alegria / de con-viver". Para além da aula de literatura, o poema abre portas para desdobramentos interdisciplinares, conectando-se à História (o neocolonialismo), à Sociologia (a crítica à sociedade do espetáculo e ao progresso desenfreado) e à Filosofia (questões existenciais). Como avaliação, pode-se propor a escrita de um texto dissertativo sobre a relação entre avanço tecnológico e bem estar humano, utilizando o poema como argumento central.
Em suma, trabalhar "O Homem: as viagens" em sala é oferecer aos estudantes mais do que uma análise literária. É fornecer uma ferramenta para refletir sobre o mundo contemporâneo, mostrando que a literatura é um espaço privilegiado para questionar as certezas do nosso tempo. O papel do professor é ser o mediador dessa jornada, demonstrando que a maior de todas as explorações talvez não exija um foguete, mas a coragem de "pôr o pé no chão / do seu coração".
Resultados e discussão
Este trabalho buscou analisar os eixos temáticos do poema “O Homem; as viagens”, de Carlos Drummond de Andrade, e delinear suas potencialidades para a formação de professores. A análise estrófica, fundamentada em uma abordagem interpretativa (KORYTOWSKI, 2021), permitiu identificar a articulação de dois eixos centrais: o científico, que estrutura a narrativa da expansão tecnológica, e o social, que revela a crítica existencial e colonialista subjacente a essa jornada.
Ficou evidente que a obra de Andrade (1973) utiliza a grandiosidade da conquista espacial não para exaltá-la, mas para expor a futilidade de uma busca externa que ignora os vazios internos e as mazelas sociais, como a "muita miséria" deixada na Terra. O poema, inserido em um contexto de intensas reflexões sobre a condição humana (TALARICO, 2011), demonstra que a expansão geográfica é apenas a replicação de um "Repetitório" de angústias e contradições.
A partir dessa análise, a proposta pedagógica desenvolvida buscou traduzir essa complexidade em uma proposta prática para a formação docente. Ao instigar o professor a mediar a leitura do poema por meio desses dois eixos, fomenta-se não apenas a interpretação literária, mas também o desenvolvimento do pensamento crítico e interdisciplinar, alinhando-se aos desafios da formação de educadores contemporâneos (LEITE, 2008).
Considerações finais
A análise do poema “O Homem: as viagens” transcende o exercício literário. Ela confirma o poema como um poderoso artefato para refletir sobre o paradoxo do progresso: a distância crescente entre a capacidade tecnológica e a sabedoria humana. A verdadeira e "dificílima" viagem "de si a si mesmo" emerge, assim, como a resolução poética e, fundamentalmente, como um horizonte para uma educação que aspire verdadeiramente a "humanizar o homem", descobrindo a alegria do "con-viver".
Apoio: Fapemig, Capes, CNPq
Referências
ANDRADE, C. D. (1973) As impurezas do Branco. 1. São Paulo: Livraria José Olympio Editora.
GODOI, Marcílio Ribeiro de. (2022) A dangerosíssima viagem: os poemas de homenagem, a amizade e os modos de subjetivação em Drummond. 456 f. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) - Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-150 22023-135707/pt-br.php>. Acesso em: 8 set. 2025.
KORYTOWSKI, I. (2021) Manual do Poeta. 1. Rio de Janeiro: Ciência Moderna.
LEITE, Y. U. F. (2008) Formação de Professores. Caminhos. 1. São Paulo: Liber.
MACIEL, Emanoela Moreira. (2016) TEIXEIRA, Selena Mesquita de Oliveira. “O Homem; as viagens”: o que nos diz Drummond sobre a Contemporaneidade? Caruaru: VII Mostra de Pesquisa em Ciência e Tecnologia DeVry Brasil.
TALARICO, F. B. F. (2011) História e Poesia em Drummond - A Rosa do Povo. 1. Bauru: EDUSC.
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