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Inteligência Artificial no Processo Criativo da Arte, com base na Análise do Quadro Teatro da Ópera Espacial e o Processo da Desumanização

12 de nov. de 2025 13:30
1h 30m
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Resumo Expandido Educação Científica e Ambiental 3º Dia

Descrição

Inteligência Artificial no Processo Criativo da Arte, com base na Análise do Quadro Teatro da Ópera Espacial e o Processo da Desumanização

Analu Franco Araujo¹,Thayna Eterno candido ¹, Laise Vieira Gonçalves², Antonio Fernandes Nascimento Junior²

¹ Pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Ambiental - Instituto de Ciências Naturais (ICN) – Universidade Federal de Lavras (UFLA) Caixa Postal 3037 – 37200-000 – Lavras, MG – Brasil

² Departamento de Biologia/ICN – Universidade Federal de Lavras (UFLA) Caixa Postal 3037 – 37200-000 – Lavras, MG – Brasil
analu.araujo2@estudante.ufla.br, thayna.candido1@estudante.ufla.br, laiseribeiro@ufla.br, antoniojunior@ufla.br

Abstract. Artificial Intelligence (AI) is one of the most important technological innovations of our time and has transformed several fields, including art. Its use in artistic creation sparks debates about the dehumanization of art and the potential replacement of human labor. AI raises questions about authenticity, authorship, and the role of the artist. Machines can now produce works previously attributed to exclusively human creativity. A emblematic case was the AI-created "Théâtre d’Opéra Spatial," which won an art competition at the 2022 Colorado State Fair. This study analyzes this work and its implications, addressing three main themes: the replacement of creative labor, the dehumanization of art, and AI's ability to represent human art.

Keywords: AI, Art, Technology, Creativity, Dehumanization.

Resumo: A Inteligência Artificial (IA) é uma das inovações tecnológicas mais importantes da atualidade e tem transformado diversas áreas, incluindo a arte. Seu uso na criação artística gera debates sobre desumanização da arte e o possível substituição do trabalho humano. A IA levanta questões sobre autenticidade, autoria e o papel do artista. Máquinas já conseguem produzir obras antes atribuídas à criatividade exclusivamente humana. Um caso emblemático foi a obra "Théâtre d’Opéra Spatial", feita por IA, que venceu um concurso de arte na Feira Estadual do Colorado, em 2022. O presente estudo analisa essa obra e suas implicações, abordando três eixos principais: substituição do trabalho criativo, desumanização da arte e a habilidade da IA de representar a arte humana.

*Palavras-chave:*IA, Arte, Tecnologia, Criatividade, Desumanização.

Introduçãostrong text**
O universo da arte tem experimentado transformações substanciais nos últimos anos, o que tem gerado intensos questionamentos sobre sua definição e os limites das suas características tradicionais. Esse cenário tem alimentado um debate profundo sobre a verdadeira natureza da arte. A chegada da chamada "new art history" nas décadas de 1970 e 1980 trouxe uma nova geração de renomados estudiosos, como Svetlana Alpers, Michael Baxandall, Norman Bryson, T.J. Clark, Hubert Damisch, Michael Fried, Rosalind Krauss, Linda Nochlin, entre outros (CARDOSO, 2009).
A inteligência artificial (IA) tem se apresentado como ferramenta artística, especialmente em concursos, onde a questão da autoria se coloca de forma incisiva. A principal controvérsia está no fato de a obra não ser criada pelas mãos humanas, o que provoca reflexões sobre a desumanização da arte. Em 2022, a IA esteve no centro de uma grande polêmica: uma imagem intitulada Théâtre d’Opéra Spatial, gerada com a descrição autoral "Jason M. Allen via Midjourney", a qual foi submetida ao concurso anual de arte da Feira Estadual do Colorado, nos Estados Unidos, e conquistou o primeiro lugar (FOSCOLO et al., 2024). Gerando acusações de fraude por parte de artistas que se sentiram enganados ao concorrerem com uma obra vinda de uma produção artificial tida como não humana.
Diante disso, o presente artigo tem por objetivo analisar o quadro Théâtre d’Opéra Spatial, a partir de três eixos principais, sendo eles: (1) a substituição do trabalho criativo humano, (2) a desumanização da arte e (3) a capacidade da inteligência artificial de expressar a arte humana. Buscando refletir sobre as implicações da IA na substituição do trabalho artístico e questionando seu impacto sobre o conceito de arte.

Materiais e Métodos
A pesquisa foi desenvolvida a partir de um estudo qualitativo e exploratório, com caráter descritivo, utilizando como objeto de análise a obra “Teatro da Ópera Espacial”. Para a análise do quadro produzido por inteligência artificial, foi utilizada a metodologia de Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2010), que se fundamenta na interpretação e inferência dos significados presentes no objeto de estudo, permitindo examinar as camadas de sentido estéticas, simbólicas e conceituais expressas pela obra. O processo analítico desenvolve-se em três etapas principais: a pré-análise, destinada à organização e preparação do material; a exploração do material, que envolve a aplicação sistemática das decisões formuladas na etapa anterior; e o tratamento dos resultados, fase em que se realizam as inferências e interpretações, possibilitando uma compreensão aprofundada dos significados e intenções comunicativas que emergem da criação artística mediada pela IA.
A análise da obra “Teatro da Ópera Espacial” foi conduzida considerando aspectos formais e simbólicos, tais como composição, uso de cores, narrativa visual e contexto histórico. Em seguida, foram utilizadas ferramentas digitais de geração de imagens baseadas em inteligência artificial, como Midjourney e DALL-E, para produzir representações inspiradas na obra original. O objetivo foi comparar a interpretação da IA com a produção humana, identificando elementos que se mantêm, se transformam ou se perdem no processo automatizado (FREITAS, 2023).
Por fim, os resultados foram discutidos criticamente à luz da literatura revisada, buscando compreender de que maneira a utilização de inteligência artificial impacta a autoria e a subjetividade no processo criativo, bem como sua relação com a ideia de desumanização da arte, conforme reflexão proposta por Santaella (2020), que analisa as transformações da sensibilidade e da autoria na era das máquinas inteligentes.

Resultados
3.1 Arte Como Expressão Humana

A arte pode ser vista como uma necessidade de expressão humana, surgindo a partir da interação entre o homem e o mundo. Assim, ao entender a arte como resultado do confronto entre o homem e o mundo, acredita-se que ela é vida. Através dela, o ser humano interpreta sua própria natureza, criando formas enquanto se descobre, inventa, expressa e conhece (BUORO, 2000).
A arte tem sido, ao longo da história, uma das formas mais poderosas de expressão humana, permitindo aos indivíduos explorar, interpretar e comunicar suas visões sobre o mundo. Desde os tempos da Renascença, com artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael Sanzio, a arte era entendida como uma maneira de representar a realidade, ao mesmo tempo em que transmite sentimentos e ideais de épocas e culturas específicas (CANELLA, 2016). Estes foram pioneiros na busca pela perfeição técnica e na representação precisa do ser humano e da natureza. Para Cardoso (2009), a arte esteve desde a antiguidade intrinsecamente ligada à expressão pessoal e à busca pela beleza e compreensão do mundo ao redor.
Essa trajetória histórica da arte sugere que seu papel não se dá apenas como expressão estética, mas também como uma ferramenta essencial no desenvolvimento cognitivo do ser humano. Freire (2016)diz que a arte deixou de ser apenas um campo de expressão ao longo do tempo e passou a influenciar diversas áreas do conhecimento, sendo reconhecida por aprimorar habilidades cognitivas fundamentais.

3.2 Inteligência Artificial
Segundo Nilsson (2009), a IA é um conjunto de técnicas destinadas à criação de máquinas inteligentes, capazes de resolver problemas que exigem a inteligência humana. Ao analisar a IA sob uma perspectiva histórica, percebe-se que ela está em constante desenvolvimento desde a década de 1950, influenciado pelas necessidades bélicas decorrentes da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria por questões existenciais profundas (como imortalidade, criação e controle da natureza), que hoje se refletem nas teorias transumanistas e pós-humanistas (FERRANDO, 2019).
Tal tecnologia tem levantado diversos questionamentos acerca de suas repercussões em várias áreas da sociedade, nas rotinas diárias e no meio ambiente. Destacam-se, especialmente, os efeitos no setor do trabalho, que sugerem uma substituição do trabalho humano, à medida que ele pode ser substituído pela automação das máquinas, potencializando o desemprego (LARSON, 2021). Ainda para o autor, os impactos acerca da a privacidade, com a coleta de informações de diferentes naturezas, também são preocupantes, visto que informações que vão desde preferências pessoais até dados relacionados à saúde estão sendo compartilhadas em bancos de dados desconhecidos, a fim de utilizar as ferramentas disponíveis por diversas inteligências artificiais

*3.3 A Arte e a Inteligências Artificial*
No que desrespeito ao universo da arte , a IA também está gerando preocupações, no que desrespeita principalmente sobre a substituição do trabalho manual e a desumanização do processo artístico. Em maio de 2023, a Writers Guild of America (WGA), que representa cerca de 20 mil roteiristas nos Estados Unidos, deu inicio a uma greve após falharem as negociações com a Alliance of Motion Pictures and Television Producers (AMPTP), o qual as exigências norteava-se a partir de questões como a IA não escrever ou reescrever material literário, não sendo permitido utilizá-la como fonte, além disso, o material coberto pelo MBA também não pode ser usado para treinar a IA (WGA, 2023).
Frente a esta discussão, no ano de 2022, em Colorado, Estados Unidos, Jason Allen, gerou um grande debate sobre a autoria de imagens digitais após ganhar o Concurso de Arte Digital, pois utilizou a plataforma Midjourney para construção do seu quadro, intitulado Théâtre d’Opéra Spatial, conforme ilustrado na Figura 1. Essa plataforma utiliza inteligência artificial para criar, em poucos minutos, imagens inéditas a partir de descrições textuais, se fundamentando no reconhecimento de padrões matemáticos a partir do big data obtido de autores e usuários (LÓPEZ, 2022).
O Midjourney só pode ser acessado através de um bot no script oficial do projeto, em um tipo de chat colaborativo, onde o usuário deve inserir a uma busca acompanhada, o que cria a impressão de que ele está programando sua própria criação. Segundo o blog de inteligência artificial generativa. Jason Allen afirma ter realizado mais de 900 tentativas até alcançar o resultado final. Além disso, ele escreveu o roteiro por completo, que passou por várias reescritas até que a IA conseguisse interpretar corretamente o conteúdo. O autor ainda destaca que precisou editar a imagem manualmente, o que implica em uma significativa participação humana no processo criativo. (FOSCOLO et al., 2024)

Além do Midjourney, o autor escolheu ferramentas de edição, como Photoshop e Gigapixel AI, e só depois imprimiu o projeto. Jason Allen recebeu o valor de US$ 300 eu ma medalha.

3.4 Morte da Arte
A expressão "Morte da Arte" carrega um peso filosófico significativo, sendo amplamente discutida no contexto da estética e do desenvolvimento da arte ao longo do tempo. Seu uso, associado ao quadro "Teatro da Ópera Espacial", sugere uma reflexão profunda sobre os papéis e transformações da arte no mundo contemporâneo. O encontro desses dois conceitos, a ideia de morte da arte e a metáfora sugerida pelo título da obra oferece debates sobre o futuro da criatividade, da expressão artística e de seu significado em um universo em constante mudança.
Quando associamos a "Morte da Arte" ao "Teatro da Ópera Espacial", somos levados a refletir sobre como a arte, embora declarada "morta" no sentido tradicional, se reinventa em cenários inesperados. O teatro cósmico representado pelo quadro pode ser visto como o local onde a arte encontra um novo propósito: não mais limitado pelas normas do passado, mas livre para explorar novas fronteiras. Assim, a morte não é o fim, mas o começo de algo radicalmente diferente. Nesse sentido, o "Teatro da Ópera Espacial" pode ser interpretado como uma celebração dessa transição. A arte, antes confinada a representações da realidade, agora se torna um ato criativo autônomo, capaz de gerar mundos, realidades e experiências próprias. O palco espacial simboliza essa libertação, onde a arte não tem mais um "destino" a cumprir, mas apenas o desejo de existir em sua forma mais pura e experimental (SILVA et al., 2024)
Em um mundo onde a tecnologia redefine constantemente as formas de expressão, o quadro pode ser visto como uma resposta à intersecção entre arte, ciência e cultura. A "Ópera Espacial" pode representar essa convergência de disciplinas, onde a criatividade humana se une à inteligência artificial, à exploração espacial e à inovação tecnológica para criar novas narrativas e estéticas. Assim, o quadro pode ser uma declaração sobre o papel da arte em um futuro interconectado e expandido.

Considerações finais
O quadro "Teatro da Ópera Espacial", quando analisado nos desafia a repensar o lugar da arte em um mundo pós-moderno e tecnologicamente avançado. Ele nos lembra que, embora as formas tradicionais de arte possam ter perdido seu lugar central, a criatividade humana continua a se transformar, encontrando novos meios e espaços para se manifestar. Nesse teatro cósmico, a arte não morre, ela se transforma em algo maior, mais abrangente e infinitamente inovador. Afinal, como espectadores desse "teatro espacial", somos convidados não apenas a contemplar, mas a participar da reinvenção da arte e de seus significados.
O quadro "Teatro da Ópera Espacial" oferece reflexões sobre a substituição do trabalho criativo humano por máquinas e sistemas tecnológicos. Ele nos desafia a considerar o que significa criar em um mundo onde o tecnológico supera as limitações humanas. Contudo, ele também abre espaço para imaginar novas possibilidades, onde o humano e o tecnológico se encontram para expandir os limites da arte. A desumanização da arte pode ser interpretada como uma perda da conexão emocional e subjetiva que define a experiência humana, mas também como uma oportunidade para explorar novas formas de criação e expressão.
Por fim, o quadro nos desafia a perguntar: se a arte se torna desumanizada, ela ainda pode cumprir seu papel de refletir o que significa ser humano? Ou ela se torna algo completamente diferente, um reflexo de um universo onde o homem não é mais o centro, mas apenas uma parte de um sistema muito maior? O "Teatro da Ópera Espacial" é, assim, um palco de questionamentos, onde o futuro da arte e da humanidade se encontram em uma performance infinita. O desafio está em encontrar maneiras de preservar a essência humana em um mundo cada vez mais automatizado, onde o "teatro" e a "ópera" são encenados não apenas por nós, mas também por aquilo que criamos.

Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio financeiro das agências CAPES, CNPq e FAPEMIG.

Referências
Bardin, L. (2010). Análise de conteúdo. Lisboa, Edições 70.

CANELLA, Riccardo et al. Il Cinquecento e il "gusto Michelangelo". In: Ascolto il tuo cuore cidade. Ambiguità endemiche, politiche e morfologiche, dell'architettura in Italia. Maggioli Editore, 2016. p. 50-50

BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: UNESP, 2004.

CARDOSO, Rafael. A história da arte e outras histórias. Cultura Visual, p. 105-113, 2009.

FERRANDO, F. Pós-Humanismo, Transumanismo, Anti-Humanismo, Meta￾Humanismo e novos materialismos: Diferenças e Relações. Rev. Filos. Aurora, Curitiba, v. 31, n. 54, set./dez. 2019, p. 958-971.

FREITAS, Halley Ferreira Solano de. Vincent van bot: robôs artistas e os desafios do direito autoral na era da inteligência artificial generativa. 2023. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) — Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2023

SANTAELLA, Lucia. A pós-humanidade: as relações entre o humano e o tecnológico na era da inteligência artificial. São Paulo: Paulus, 2020.

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Autores

Analu Franco Araujo (UFLA) Antonio Fernandes Nascimento Junior (UFLA) Laise Vieira Gonçalves Ribeiro (UFLA) Thayna Eterno Cândido (UFLA)

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