Descrição
Este artigo tem o objetivo de compreender de que maneira o cuidado, visto como uma dimensão da reprodução social, é teorizado pela filósofa Nancy Fraser, e como a autora transforma a questão do cuidado em um ponto estratégico de uma crítica ao capitalismo contemporâneo. Este artigo tem como foco a evolução do conceito de “crise do cuidado” na obra da autora, em três momentos distintos: os artigos publicados entre 2016 e 2016; o livro “Capitalismo em debate: uma conversa na teoria crítica” (2018) e a obra “Capitalismo canibal” (2022). Nos textos de 2016 e 2017, Fraser caracteriza a crise do cuidado como sendo uma expressão das contradições sociorreprodutivas do capitalismo. Uma vez que a reprodução social, geralmente associada ao trabalho não remunerado das mulheres, é indispensável para a manutenção da vida e para a acumulação de capital. Ao negligenciar essa esfera, o capitalismo gera desequilíbrios estruturais entre a produção econômica e reprodução social, minando suas próprias condições de sustentabilidade. Já nas produções de 2018 e 2022, a autora insere a crise do cuidado em uma crise de âmbito mais geral do capitalismo, que é agravada pelo neoliberalismo e pelas desigualdades de gênero, raça e classe. E, com a metáfora do canibalismo, a autora entende como o sistema devora suas próprias bases, que, em sua visão, correspondem ao cuidado, à natureza e à democracia. E esse processo foi intensificado pela pandemia da COVID-19, que deixou clara a fragilidade das redes sociais de apoio e a “calamidade do cuidado”. A crise do cuidado é parte de uma crise maior, multidimensional e estrutural do capitalismo. A sua superação requer não apenas a valorização do cuidado, mas, acima de tudo, uma transformação social profunda e que seja capaz de associar de forma justa e sustentável as dimensões da produção e da reprodução.
Palavras-chave: Nancy Fraser. Crise do cuidado. Reprodução social. Capitalismo. Teoria crítica.
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