Descrição
Os discursos sobre as mulheres moldam o que é socialmente reconhecido como “ser mulher” e, com isso, a maneira como elas são vistas e representadas na sociedade pode afetar diretamente a construção de sua identidade. Um imaginário cristalizado, em muitas sociedades, associa a maternidade à felicidade e completude feminina, sustentando a ideia de que, sem filhos, a mulher seria infeliz e amargurada. Quando uma mulher decide não ter filhos, ela rompe com esses discursos normativos que sustentam a feminilidade, o que leva ao questionamento social de sua escolha. Motivado pela experiência pessoal da autora, uma mulher casada e sem filhos que enfrenta cobranças sociais de familiares e amigos sobre a maternidade, o presente estudo busca compreender como mulheres com visibilidade pública que escolheram não ser mães se constroem e são construídas discursivamente. Como fundamentação teórica, elegeu-se a Análise de Discurso produzida por Michel Pêcheux (2014), Eni Orlandi (2015, 2023) e Jean-Jacques Courtine (2016), o conceito de ideologia de Louis Althusser (2010) e reflexões sobre “ser mulher” propostas por Beauvoir (1967, 1970) e questões sobre gênero de Judith Butler (2004). A Análise de Discurso busca compreender como os discursos são produzidos, que efeitos de sentido promovem, considerando as condições históricas, sociais e ideológicas de diferentes acontecimentos. A escolha dessa temática configura um estudo de grande importância para a sociedade em geral porque trata da condição social de muitas mulheres na atualidade. No entanto, observa-se que há poucos trabalhos voltados para a construção social da maternidade na área da Análise de Discurso, o que também justifica a escolha da temática abordada. O trabalho terá como corpus depoimentos de mulheres com grande visibilidade nas mídias e celebridades que optaram pela não maternidade, por meio de publicações disponíveis em plataformas de notícias on-line, publicadas entre 2010 e 2025, para revelar como os discursos sociais moldam e limitam a construção da identidade feminina, considerando as relações de poder e o silenciamento das vozes que desafiam as normas convencionais. Como se trata de um trabalho em fase inicial, foi feita uma análise preliminar que revelou que, na medida em que a construção da identidade se dá nas práticas discursivas, a sociedade, através do questionamento constante sobre a maternidade, contribui para construir mulheres como sujeitos que precisam se justificar por suas escolhas de vida, enfatizando o impacto emocional e psicológico do silenciamento e da censura vividos por elas.
Palavras-chave: análise do discurso; construção da identidade; formações discursivas; não maternidade.
Agradecimentos
A autora agradece o apoio financeiro da agência CAPES.
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