Descrição
A finalidade do presente trabalho é realizar uma análise da crônica “Os tais higienistas”, de Lima Barreto, a fim de compreender se há possiblidades de trabalhar com a obra artística em uma proposta de ensino interdisciplinar em Ciências, a partir da concepção de que a obra pode se configurar como uma proposta crítica e contextualizada do conhecimento científico e suas questões socioambientais e econômicas daquela época, em especial, na sociedade carioca. A apreciação da obra se desenvolveu por meio de uma análise qualitativa, que permitiu identificar em seus trechos tais aspectos e concluir a possibilidade de desenvolver práticas e conhecimentos em áreas citadas. No início do século XX, o Brasil atravessava um momento de profundas transformações políticas, sociais e científicas. Nesse contexto, a medicina assumiu um papel central na construção de um ideal de nação moderna, civilizada e saudável. Uma das figuras mais emblemáticas desse projeto foi o médico Carlos Chagas, reconhecido internacionalmente pela descoberta da Doença de Chagas em 1909 e por sua atuação na saúde pública. Contudo, sua trajetória também se entrelaça com o avanço do pensamento eugenista no Brasil, uma ideologia que buscava “melhorar” a população nacional por meio do controle biológico e social de determinados grupos considerados degenerados ou inferiores. Embora Carlos Chagas tenha se colocado, em momentos específicos, contra as formas mais radicais do eugenismo racial, como o defendido por Renato Kehl, sua atuação esteve alinhada com uma visão sanitarista que associava miséria, doença e atraso ao corpo do pobre, especialmente o negro e o sertanejo. Essa concepção aproximava-se da lógica eugenista ao propor intervenções técnico-médicas como solução para problemas sociais, deslocando o foco da estrutura socioeconômica para os corpos e hábitos individuais.
Palavras-chave: ensino de ciências, higienismo, colonialismo, racismo.
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