Descrição
A hemocromatose é uma enfermidade caracterizada pela deposição de ferro nos tecidos, com predileção pelo parênquima hepático, resultando em disfunção progressiva. Em equinos, a sobrecarga de ferro pode estar associada a distúrbios metabólicos hereditários, iatrogênicos ou a processos hemolíticos crônicos. A deposição excessiva de ferro no fígado pode resultar em cirrose, quadro que compromete de forma significativa e irreversível a função hepática. Objetivou-se relatar um caso de cirrose e hemocromatose em um equino, com confirmação diagnóstica obtida em exame de necrópsia e exames microscópicos. Um equino, fêmea, 1 ano de idade, Mangalarga Marchador, com histórico de desconforto abdominal foi submetido a procedimentos emergenciais, porém foi a óbito e encaminhado ao Setor de Patologia Veterinária - DMV-FZMV-UFLA para necrópsia. O exame macroscópico evidenciou bom estado corporal e mucosas hipocoradas; o fígado estava aumentado de volume e acentuadamente amarelado. Fragmentos de órgãos e tecidos foram coletados, fixados em formol a 10% e processados rotineiramente para histologia. Os cortes foram corados em Hematoxilina e Eosina para avaliação histopatológica e novos cortes foram corados pela técnica histoquímica de Azul da Prússia para evidenciar acúmulo de ferro. A avaliação microscópica do fígado evidenciou necrose acentuada de hepatócitos, fibrose em ponte, macrovacuolização citoplasmática difusa moderada, focos isolados de regeneração de hepatócitos, pigmento granular amarronzado em hepatócitos e sinusoides e grande quantidade de macrófagos carregados de pigmento granular escuro. O pigmento granular observado nos hepatócitos foi intensamente corado pelo Azul da Prússia, confirmando o acúmulo de ferro, denominado hemocromatose. Os achados de necrópsia e histopatológicos permitiram concluir a hepatopatia tóxica subaguda como a causa da morte. A cirrose, caracterizada por fibrose difusa e reorganização nodular do fígado, é pouco frequente em equinos e geralmente é associada a insultos crônicos, como intoxicações por plantas hepatotóxicas, além de causas infecciosas, metabólicas e colestáticas. A hemocromatose, embora rara e pouco descrita na espécie, ocorre principalmente de forma secundária, relacionada à sobrecarga de ferro ou hemólise persistente, e pode favorecer lesões hepáticas crônicas com progressão para cirrose. Este caso evidencia que, mesmo incomum, a condição deve ser considerada nas possibilidades diagnósticas para hepatopatias crônicas, além de ressaltar o valor da necrópsia na confirmação diagnóstica e na identificação de alterações não detectadas em vida.
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