Descrição
Abstract. Pequi (Caryocar brasiliense Camb.), a native fruit from the Brazilian Cerrado, is rich in bioactive compounds, particularly phenolics. This study evaluated the effects of extraction solvents (ethanol, acetone, and ethanol:acetone mixture) and geographical origin (Lavras and Montes Claros, Minas Gerais) on the total phenolic content (TPC) of kernel, yellow pulp, and white pulp. A 3 × 2 factorial design with four replicates was applied, and data were analyzed by ANOVA and Tukey’s test (p ≤ 0.05). The ethanol:acetone mixture showed the highest efficiency, while environmental differences influenced phenolic content, emphasizing the importance of extraction optimization and regional factors.
Keywords: Cerrado, bioactive compounds, Caryocar brasiliense
Resumo. O pequi (Caryocar brasiliense Camb.), fruto nativo do Cerrado brasileiro, apresenta elevada concentração de compostos bioativos, em especial fenólicos. Este estudo avaliou os efeitos de diferentes solventes de extração (etanol, acetona e mistura etanol:acetona) e da origem geográfica (Lavras e Montes Claros, MG) sobre os teores de compostos fenólicos totais (TPC) na amêndoa, polpa amarela e polpa branca. O delineamento foi fatorial 3 × 2, com quatro repetições, e os dados analisados por ANOVA e teste de Tukey (p ≤ 0,05). A mistura etanol-acetona apresentou maior eficiência, enquanto fatores ambientais influenciaram a composição fenólica, destacando a importância da otimização da extração.
Palavras-chave: Cerrado, compostos bioativos, Caryocar brasiliense
1.Introdução
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, abrangendo cerca de 1,98 milhão km², o que representa 23,3% do Brasil. Distribui-se principalmente por Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí e Distrito Federal, além de áreas menores em outros estados (IBGE, 2024). O bioma apresenta elevada biodiversidade, incluindo frutos de relevância cultural e nutricional, como o pequi (Caryocar brasiliense Camb.), conhecido como “ouro do Cerrado” (Guerra et al., 2023). Este fruto é rico em compostos bioativos, como fenólicos, flavonoides e carotenoides, com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias (Narita et al., 2022).
A eficiência na extração desses compostos varia conforme solventes empregados (etanol, acetona ou suas combinações) e pela origem geográfica, já que condições edafoclimáticas influenciam a composição química do fruto (Oliveira et al., 2022; Cardoso et al., 2021).
Por esse motivo, este estudo tem como objetivo avaliar a influência de diferentes solventes de extração solventes (etanol, acetona e sua combinação) e da origem geográfica do fruto (Montes Claros e Lavras) na obtenção de compostos fenólicos totais das frações do pequi: amêndoa, polpa branca e polpa amarela.
2. Metodologia
Frutos de pequi foram coletados em Montes Claros (16°43′41″S; 43°51′54″W) e Lavras (21°14′43″S; 44°59′59″W), em fevereiro de 2023. Após higienização, foram separados em amêndoa, polpa branca e polpa amarela. Para cada fração (1 g), adicionaram-se 50 mL de solvente (etanol, acetona ou mistura 1:1), submetidos à sonicação (45 °C/30 min) e agitação (45 °C/60 min). Os extratos foram filtrados e armazenados a −18 °C.
O teor de compostos fenólicos totais (TPC) foi determinado pelo método de Folin-Ciocalteu (Singleton and Rossi, 1965) e expresso em mg GAE/100 g. O experimento seguiu delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 3 × 2, com quatro repetições. Os dados foram submetidos à ANOVA, e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05), utilizando-se o software RStudio (POSIT SOFTWARE, 2025).
3. Resultados e discussão
Nas Tabela 1, 2 e 3 são apresentados os resultados da análise de variância (ANOVA) para o teor de compostos fenólicos totais (TPC) na amêndoa, polpa amarela e polpa branca do pequi, respectivamente.
Tabela 1 - Resultados da análise de variância (ANOVA) para compostos fenólicos totais na amêndoa de pequi.
Fonte de variação GL SQ QM F calculado p-valor (Pr >F)
Solvente 2 137.883,507 68.941,754 199,751 5,15 × 10⁻¹³
Local 1 11.484,375 11.484,375 33,275 1,82 × 10⁻⁵
Solvente × Local 2 4.653,299 2.326,649 6,741 6,53 × 10⁻³
Resíduos 18 6.212,500 345,139 – –
Fonte: Da autora (2025).
Tabela 2 - Resultados da análise de variância (ANOVA) para compostos fenólicos totais na polpa amarela de pequi.
Fonte de variação GL SQ QM F calculado p-valor (Pr >F)
Solvente 2 63.764,120 31.882,060 63,217 7,25 × 10⁻⁹
Local 1 4.378,501 4.378,501 8,682 8,63 × 10⁻³
Solvente × Local 2 1.025,231 512,616 1,016 0,382
Resíduos 18 9.077,951 504,331 – –
Fonte: Da autora (2025).
Tabela 3 - Resultados da análise de variância (ANOVA) para compostos fenólicos totais na polpa branca de pequi.
Fonte de variação GL SQ QM F calculado p-valor (Pr >F)
Solvente 2 22.732,681 11.366,340 61,832 8,63 × 10⁻⁹
Local 1 461,200 461,200 2,509 0,131
Solvente × Local 2 14.209,379 7.104,689 38,649 3,06 × 10⁻⁷
Resíduos 18 3.308,887 183,827 – –
Fonte: Da autora (2025).
Na amêndoa (Tabela 1), a análise de variância indicou efeito estatisticamente significativo (p ≤ 0,05) para os fatores solvente, local e para a interação entre ambos, demonstrando que a eficiência da extração de compostos fenólicos foi influenciada tanto pela natureza do extrator quanto pela origem geográfica dos frutos, além da combinação entre essas variáveis. Para a polpa amarela (Tabela 2), observou-se efeito significativo (p ≤ 0,05) para solvente e local, mas não para a interação, indicando que a resposta foi consistente nos dois locais avaliados. Já na polpa branca (Tabela 3), verificou-se efeito significativo (p ≤ 0,05) para o fator solvente e para a interação solvente × local, evidenciando que tanto a natureza do extrator quanto sua combinação com a origem geográfica dos frutos exerceram influência sobre os teores de compostos fenólicos; entretanto, o fator local isolado não apresentou efeito estatístico, sugerindo que a variação geográfica, de forma independente, não foi determinante na extração dos fenólicos dessa fração.
Nas Tabelas 4, 5, 6 e 7 são apresentados os teores médios de compostos fenólicos totais (mg GAE/100 g) na amêndoa, polpa amarela e polpa branca do pequi, em função dos solventes e locais de coleta.
Tabela 4 - Teor de compostos fenólicos totais (mg GAE/100 g) na amêndoa de pequi em função dos solventes e locais de coleta.
Tratamento Lavras Montes Claros
Acetona 237,2 bA 213,9 aA
Etanol 99,7 cA 74,9 bA
Etanol-Acetona 305,3 aA 222,2 aB
Médias seguidas por letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem pelo Tukey (p< 0,05). Fonte: Da autora (2025).
Tabela 5 - Teor de compostos fenólicos totais (mg GAE/100 g) na polpa amarela de pequi em função dos solventes.
Solvente Média
Etanol-Acetona 341,4792 a
Acetona 287,5208 b
Etanol 215,6458 c
Médias seguidas por letra minúscula na coluna não diferem pelo Tukey (p< 0,05). Fonte: Da autora (2025).
Tabela 6 - Teor de compostos fenólicos totais (mg GAE/100 g) na polpa amarela de pequi em função do local de coleta.
Local Média
Montes Claros 295,0556a
Lavras 268,0417b
Médias seguidas por letra minúscula na coluna não diferem pelo Tukey (p< 0,05). Fonte: Da autora (2025).
Tabela 7 - Teor de compostos fenólicos totais (mg GAE/100 g) na polpa branca de pequi em função dos solventes e locais de coleta.
Tratamento Lavras Montes Claros
Acetona 152,4 aA 100,8 bB
Etanol 49,3 cA 59,8 cA
Etanol-Acetona 76,0 bB 143,5 aA
Médias seguidas por letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem pelo Tukey (p< 0,05). Fonte: Da autora (2025).
De maneira geral, os melhores resultados foram obtidos com a mistura etanol-acetona, confirmando a superioridade dos sistemas binários, enquanto o etanol isolado apresentou os menores teores em todas as frações avaliadas. Na amêndoa (Tabela 4), o maior teor foi registrado em Lavras (305,3 mg GAE/100 g) com a mistura, e o menor em Montes Claros com etanol (74,9 mg GAE/100 g); diferença significativa entre locais ocorreu apenas para o sistema etanol-acetona. Para a polpa amarela (Tabela 5 e 6), a mistura também apresentou os maiores valores médios (341,5 mg GAE/100 g), seguida por acetona (287,5 mg GAE/100 g) e etanol (215,6 mg GAE/100 g), sendo Montes Claros superior a Lavras. Na polpa branca (Tabela 7), a acetona destacou-se em Lavras (152,4 mg GAE/100 g), enquanto a mistura apresentou maior teor em Montes Claros (143,5 mg GAE/100 g), com o etanol novamente registrando os menores valores em ambos os locais (49,3 e 59,8 mg GAE/100 g, respectivamente).
Esse comportamento conjunto evidencia que a mistura etanol-acetona foi consistentemente o solvente mais eficiente para a extração de fenólicos, independentemente da fração, corroborando resultados prévios em frutos tropicais (Rodrigues et al., 2021; Machado et al., 2019). As variações entre locais, observadas sobretudo nos sistemas mais eficientes, sugerem influência de fatores edafoclimáticos na síntese de compostos fenólicos, em conformidade com estudos de Chisté et al. (2012) e Zeraik et al. (2016). Já a limitação do etanol isolado, constatada em todas as frações, reforça observações de Silva et al. (2020) acerca de sua menor capacidade de solubilizar compostos de maior peso molecular.
4. Conclusão
Este estudo demonstrou que tanto o tipo de solvente utilizado quanto a origem geográfica dos frutos influenciaram significativamente os teores de compostos fenólicos totais em diferentes frações do pequi (amêndoa, polpa amarela e polpa branca). A mistura etanol-acetona destacou-se como o sistema extrativo mais eficiente, confirmando a superioridade de solventes binários em relação aos isolados. Além disso, a variação geográfica afetou a composição fenólica, especialmente em interações específicas entre solvente e local. Esses achados reforçam a importância de se considerar tanto fatores técnicos (condições de extração) quanto ambientais na valorização de frutos do Cerrado como fontes de compostos bioativos com potencial funcional e nutricional.
5. Referências
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