Descrição
Este resumo apresenta os resultados de uma investigação que analisou, sob a perspectiva de escolas participantes, os efeitos da Gestão Integrada da Educação Avançada (GIDE), aplicada na rede pública do estado de Minas Gerais como estratégia para elevar a qualidade da educação.
No Brasil, o neoconservadorismo manifestou-se fortemente no campo da educação e da política, particularmente com o movimento Escola sem Partido (ESP) e nas discussões sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O ESP, por exemplo, defendia que os professores deveriam se abster de "doutrinação ideológica". Além disso, o neoconservadorismo brasileiro teve forte influência do fundamentalismo religioso e de um discurso anticomunista (Lima; Hipólito, 2019).
A intensificação das parcerias entre o setor público e o privado no campo educacional foi defendida como uma estratégia para solucionar os graves problemas da educação brasileira. Essas parcerias refletiram uma visão que buscava dissociar a esfera pública do âmbito exclusivo do Estado, promovendo a participação ativa do terceiro setor, o que fortaleceu as relações entre Estado, mercado e sociedade (Vieira; Santos, 2020). Essa abordagem, no entanto, gerou questionamentos sobre a inserção de ideologias empresariais nas instituições de ensino no Brasil, o que suscitou discussões sobre o neoconservadorismo e a educação.
Nesse contexto, buscou-se investigar a GIDE. Segundo Godoy (2015), o programa adotou conceitos empresariais cuja origem ideológica remonta ao engenheiro físico Andrew Shewhart que, em 1924, elaborou o método PDCA (plan – planejar; do – atuar; check – verificar planos e resultados; action – agir). Godoy destaca que a proposta integra soluções gerenciais com aspectos pedagógicos, administrativos e estratégicos, para subsidiar práticas pedagógicas e a resolução de problemas, sem substituí-las.
Estudos mostraram que, embora tenham sido observados ganhos específicos em indicadores como taxas de aprovação e desempenho em disciplinas como português e matemática, a abordagem da GIDE foi alvo de críticas por sua ênfase superficial, que ocultava desafios mais profundos, como as desigualdades no sistema educacional e a precarização das condições de trabalho dos professores. Essa dinâmica criou um conflito entre o alcance de metas e a busca por uma educação de qualidade abrangente e sustentável (Souza, 2017).
O estudo de caso aqui apresentado teve abordagem qualitativa, fundamentada na Teoria Fundamentada em Dados (TFD). Os dados foram obtidos em três escolas da região metropolitana de Belo Horizonte, com perfis distintos e representativos de diferentes grupos, além de gestores da GIDE. Foram analisadas as percepções de gestores e especialistas responsáveis, obtidas por meio de entrevistas. Aplicaram-se as técnicas da TFD de codificação inicial, teórica e focalizada, que resultou na triangulação entre as percepções dos gestores e especialistas das escolas, dos especialistas da GIDE e das análises anteriores obtidas na literatura.
No contexto da GIDE, o neoconservadorismo manifestou-se na desconexão entre a gestão central e a realidade das escolas, especialmente durante a pandemia, quando o programa não apoiou melhorias na formação docente nem na inclusão digital dos alunos. Essa falta de suporte e estrutura refletiu um cenário de desorganização e vulnerabilidade no setor educacional, que reforçou as dificuldades enfrentadas por estudantes e professores em um ambiente marcado por desafios sociopolíticos mais amplos.
Como resultado, verifica-se que o programa GIDE, apesar de gerar avanços no campo administrativo, enfrenta desafios significativos de aplicação que, caso não sejam superados, comprometem sua efetividade e podem prejudicar ainda mais a adesão por parte dos profissionais da educação. Sugere-se que a Secretaria de Educação de Minas Gerais proceda ao cotejamento entre benefícios e custos, visto que o convênio que sustenta a aplicação tem como limite o ano de 2025. Caso a gestão do sistema estadual de educação pretenda ampliar a aplicação, recomenda-se uma reflexão sobre as estratégias de implementação e gestão, além da redefinição dos objetivos, pois não há evidências concretas de que o esforço empreendido se traduza em melhoria da qualidade para os estudantes.
Referencias
GODOY, M. H. P. C. Melhorar resultados da educação: será que os gestores sabem? Belo Horizonte: Libretteria, 2015. 180 p.
LIMA, I. G. DE .; HYPOLITO, Á. M.. A expansão do neoconservadorismo na educação brasileira. Educação e Pesquisa, v. 45, p. e190901, 2019.
SOUZA, R. M. DE. A cruzada do capital pela hegemonia do chão da escola: a ideologia da qualidade da educação e a Gestão Integrada da Escola (GIDE) como mecanismos de controle do mercado. 2017. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
VIEIRA, Lívia Maria Fraga; SANTOS, Kildo Adevair dos. Nova Gestão pública na educação básica no Brasil: Parceria público-privada, esfera local e trabalho docente. Revista Temas em Educação, João Pessoa, Brasil, v. 29, n. 3, p. 226-250, set./dez., 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/rteo/article/download/56108/32030/151944. Acesso em: 22/07/2024.
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