Descrição
A Oratura como forma de (re)existência à sociedade neoliberal
Rodrigo Martins1, Dalva de Souza Lobo 22
1Departamento de Letras, Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Caixa Postal 3037 – 37200-000 – Lavras, MG – Brazil
2 Departamento de Letras Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Caixa Postal 3037 – 37200-000 – Lavras, MG – Brazil
rodrigo.martins4@estudante.ufla.br, dalva.lobo@ufla.br
O objetivo desta pesquisa, ainda em curso, é investigar de que maneira a oratura se constitui como prática de (re)existência em uma sociedade neoliberal, evidenciando o papel da voz e da ludicidade na subjetivação e na cultura. Cunhado por Pio Zirimu nos anos 1960 para superar a contradição do termo “literatura oral” (apud Moolla, 2012), o conceito de oratura designa formas de transmissão oral baseadas na presença e na performance. Kaboré (2014) a caracteriza como um sistema estético híbrido e dinâmico, que entrelaça diferentes gêneros em um só, articulando corpo, voz e performance, com implicações críticas e políticas. A voz, nesse contexto, assume papel central: singular, como resto pulsional que marca o sujeito em sua relação com o Outro (Vivès, 2018), e coletiva, como acontecimento simbólico que funda vínculos e memórias (Zumthor, 2010). O lúdico por sua vez, é uma dimensão essencial da simbolização (Castro, 2010), enriquece as trocas sociais e amplia o campo dos signos, permitindo transformar experiências em representações. A oratura, nesse horizonte, é prática lúdica que participa da subjetivação e reafirma o que Candido (2004) defendeu como direito à literatura: o acesso às formas simbólicas como condição de humanização. Esse campo simbólico, como mostram Freud (2011) e Gagnebin (2006), é também espaço de perlaboração, em que a repetição e a reelaboração narrativa transformam experiências em memória compartilhada. Contudo, vivemos um contexto que fragiliza essa dimensão simbólica. Benjamin (2012) identifica um empobrecimento da experiência na modernidade, quando a arte de narrar cede espaço à informação e ao isolamento. Esse processo se intensifica pela lógica neoliberal, que rompe laços e captura o sujeito no consumo (Soler, 2011), pela mercantilização do lúdico (Castro, 2010) e pelo agravamento da rarefação dos espaços de escuta durante a pandemia (Jerusalinsky, 2021). Além disso, a expansão das tecnologias digitais, ao mesmo tempo, acelera a comunicação, mas fragiliza a experiência partilhada. A partir desse referencial teórico, serão analisados e interpretados fragmentos de entrevistas com habitantes de cidades de Minas Gerais para identificar como a oratura e o lúdico se configuram nas narrativas desses sujeitos. Desse modo, esperamos verificar a importância da oratura como prática simbólica que reitera a relevância da preservação da memória e do laço social, resultando em modos singulares de subjetivação que sustenta formas coletivas de vida, mesmo em contextos de fragmentação, silenciamento e captura neoliberal.
Palavras-chave: oratura e voz; subjetividade; ludicidade; laço social, neoliberalismo
Agradecimentos: Os autores agradecem o apoio financeiro da agência Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov (1936). In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. 8. ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Obras escolhidas, v. 1).
BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza (1933). In: _. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. 8. ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Obras escolhidas, v. 1). p. 113–121.
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2004. p. 169–191.
CASTRO, Norida Teotônio de. A função reguladora do lúdico: representação, afeto e laço social. São Paulo: LCTE Editora, 2010.
FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar (1914). In: FREUD, Sigmund. Obras completas. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. v. 10. p. 193–209.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. O que significa elaborar o passado? In: GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006. p. 97-105.
JERUSALINSKY, Julieta. Pandemia, infância e laço social. In: KELLY, Roberta Ecleide de Oliveira Gomes; SILVA, Kelly Cristina Brandão da (org.). Geração pandêmica: reflexões sobre a infância e a adolescência em tempos de pandemia. Curitiba: Appris, 2023. p. 23–51.
KABORÉ, André. Orature as a Characteristic of the Literatures of Werewere-Liking and Pacéré. International Journal on Studies in English Language and Literature (IJSELL), v. 2, n. 4, p. 13–30, abr. 2014. Disponível em: https://www.arcjournals.org/pdfs/ijsell/v2-i4/2.pdf. Acesso em: 18 maio 2025.
MOOLLA, Fiona. When Orature Becomes Literature: Somali Oral Poetry and Folktales in Somali Novels. Comparative Literature Studies, v. 49, n. 3, p. 434–460, 2012. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/236787351When_Orature_Becomes_Literature_Somali_Oral_Poetry_and_Folktales_In_Somali_Novels. Acesso em: 18 maio 2025.
SOLER, Colette. O que faz laço? Tradução de Elizabeth Saporiti. São Paulo: Escuta, 2016.
VIVÈS, Jean-Michel. Variações psicanalíticas sobre a voz e a pulsão invocante. Tradução de Vera Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Contra Capa; Corpo Freudiano Seção Rio de Janeiro, 2018.
ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Tradução de Jerusa Pires Ferreira. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
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