Descrição
Este artigo analisa a relação entre discurso religioso, violência e a construção de figuras heroicas na contemporaneidade, fundamentando-se na Análise do Discurso de Dominique Maingueneau (2008; 2015; 2020), nos estudos de Judith Butler (2015; 2019; 2020) sobre discurso de ódio e na teoria da Jornada do Herói de Joseph Campbell (1990; 2004; 2007). Parte-se da hipótese de que a violência, quando atravessa o discurso religioso, deixa de ser representada como prática condenável para se tornar justificada e validada socialmente, especialmente quando articulada à narrativa heroica. Como corpus, examina-se o discurso proferido por Pablo Marçal na celebração dos 25 anos da Igreja Videira, em Goiânia, em 2024, ocasião em que o enunciador mobiliza imagens de “guerra espiritual”, referências bíblicas e construções messiânicas para consolidar um ethos de herói ungido, capaz de conduzir o povo à vitória contra inimigos simbólicos e políticos. A metodologia segue os pressupostos da Análise do Discurso francesa, com atenção às condições de produção, ao interdiscurso e à cenografia enunciativa (Maingueneau, 2008). Os resultados preliminares apontam que a legitimação da violência nesse discurso se apoia em dois eixos: (i) a transposição de arquétipos heroicos, que transformam o líder em salvador do coletivo (Campbell, 2007); e (ii) a performatividade excludente do discurso religioso, que cria fronteiras entre “salvos” e “inimigos”, operando como forma de discurso de ódio (Butler, 2019). Conclui-se que a violência, ao ser narrada religiosamente como missão heroica, é reconfigurada em valor positivo, o que contribui para reforçar práticas de intolerância e exclusão em nome de um suposto bem maior.
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