Descrição
Indefinível, fragmentário e sutilmente grotesco, o animalário de Wilson Bueno, Jardim Zoológico (1999), e as criaturas que nele habitam devoram e digerem a tradição, dilaceram os limites da representação e fazem do paradoxo, do informe e da multiplicidade os alicerces de sua configuração. Tendo isso em vista, este trabalho analisa de que modo a obra reescreve criticamente a tradição dos bestiários Medievais e Renascentistas, buscando compreender em que medida essa produção cultural é atravessada pelo sintoma (Didi-Huberman, 2013) ao constituir-se de uma rede de relações que a conectam à tradição zoopoética e zooliterária ocidental, ao mesmo tempo em que a situam em um território de reordenamentos filosóficos, ontológicos e estéticos que refletem as discussões sobre a representação dos seres não humanos na contemporaneidade. Essa proposta parte de hipóteses construídas com base na reflexão dialógica entre o corpus elencado, os conceitos estético-filosóficos estudados e o montante bibliográfico atrelado à tradição zooliterária ocidental, adotando uma abordagem qualitativa, bibliográfica e exploratória. Inicialmente, além de aprofundar nos processos de formação, transformação e desaparecimento dos Bestiários, discute sobre os modos de representação dos seres não humanos nesses textos e os processos de releitura dessas produções zooliterárias na contemporaneidade. Em seguida, etapa ainda em desenvolvimento, busca refletir sobre as tensões presentes no corpus analisado, em diálogo com a tradição zoolioterária inicialmente estudada. Observa-se, inicialmente, que a obra compõe-se de tensionamentos em duas dimensões: a) o desenvolvimento de um devir-animal (Deleuze, Guattari, 1997), em relação à ausência da exploração concreta de um devir-escrita (Deleuze, Guattari 2002); b) a representação dos seres não humanos atrelada ao informe (Bataille, 2018) e à virtualidade visual-conceitual (Didi-Huberman, 2013), em contraste com a representação figurativa, positivista e antropocêntrica que constitui a tradição zooliterária Ocidental. A partir desses aspectos, é possível concluir que a obra de Bueno se desenvolve a partir de uma dinâmica paradoxal, pois estabelece relações disjuntivas em diferentes níveis e instâncias, sem deixar de concretizar um projeto estético que possibilita outros modos de representação dos seres não humanos e da animalidade, e outros modos de produzir sentidos e saberes sobre ambos.
Palavras-chave: Zooliteratura Contemporânea, Bestiários, Sintoma.
Agradecimentos: Os autores agradecem o apoio financeiro da agência CAPES.
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