Descrição
Este trabalho apresenta como a não maternidade é representada em um contexto social marcado por normas de conduta que associam a identidade feminina à maternidade. Ele se insere em um contexto em que embora as mulheres, atualmente, tenham mais autonomia e poder do que em épocas passadas, ainda persistem pressões normativas para que elas assumam papéis historicamente construídos como femininos, como o imposição da maternidade. Com o objetivo de compreender como as mulheres que rejeitam o ideal materno dialogam com discursos que lhes são contrários e constroem suas identidades, utiliza-se, como método de análise, o conceito de dialogismo de Bakhtin (2016), segundo o qual o sujeito se constitui na relação com os discursos que o atravessam. Dessa maneira, observa-se que a forma como o discurso da maternidade atua como hegemônico e normativo, restringe outros sentidos possíveis para a existência de muitas mulheres. O corpus de análise utilizado consiste no artigo de opinião intitulado “8 coisas que quem não quer ser mãe está cansada de ouvir”, de Júlia Warken, no qual são expostos julgamentos direcionados às mulheres que rejeitam a maternidade, acompanhados das respostas da autora, uma mulher que escolheu não ter filhos. A análise mostra que as mulheres que optam pela não maternidade estão em constante diálogo com o discurso dominante, seja para reafirmá-lo ou para refutá-lo, o que revela os conflitos em torno da questão. O estudo contribui para a compreensão das disputas de sentido em torno da maternidade, evidenciando que muitas mulheres não estão em silêncio diante de cobranças e imposições, mas respondem a elas, contradizendo-as e impondo suas vozes.
Palavras-chave: análise do discurso, dialogismo, identidade feminina.
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